As Puras e as Maganas
E a História, que se repete
Todo o homem cá se mede
Por aquilo que parece!
Que tristeza!
Que desperdício!
Não é só a droga que é vício!
*
É a língua que se agita
É a mente que se excita
Ao falar naquela dita!
Qual desdita, nem desdita!
Ela que só usava chita
Quer armar-se em gente rica?
Lá vai ela, altaneira
Até irrita a peneira
Para quem não tem eira, nem beira!
Olha p`ra cara pintada
Unhas de quem não faz nada
Parece que até tem criada!
A roupa é toda emprestada
Quando não é toda dada
Eu é que não digo nada!
Ai se vocês soubessem
Da metade do que eu sei
Aqui tem olho é rei!
Parece que está tudo cego
Ou parece que têm medo
Daquilo que nem é segredo!
Sorte a dela que o finado
Que nunca foi pau mandado
Já lá foi pr`ó outro lado.
Senão haveria de ver…
Mandava-a logo fazer
As limpezas e o comer!
Sim, porque agora a fingida
Nem deve fazer a lida
Nem da casa, nem da vida!
E vem para aqui toda armada
Em senhora refinada
Quando antes foi criada!
E dizem até que o patrão
Jogava-lhe sempre a mão
E ela nem dizia “não”.
Pudera, não tinha tostão !
E dando-lhe casa e pão
Saltava-lhe pr`o colchão.
Ela diz sempre que não!
E assim enganou o finado
Que a tirou do patrão!
Pensando o desgraçado
Que não lhe faltava bocado
Quando a pediu em noivado!
Bom homem era o finado
Que apesar de avisado
Quis dar-lhe um nome honrado!
E o outro malandrão
Que já tinha o seu quinhão
Calou-se, e bem calado !
E a bicha, em vez de quieta
Respeitando o pobre homem
Anda assim…Ora tomem!
Isto há gente p`ra tudo
Até se me volta a tripa
Só de olhar para este Entrudo!
Se não fosse p`lo meu Zé
Que já me proibiu banzé
Eu dizia-lhe como é que é!
È que me dá umas ganas
Quando vejo estas maganas
Armarem-se em grandes damas!!!
E no fim quem as vê
Pensam ser alta Mercê!!!
Já me viu vossemecê?!
Dá-me cá uma destas iras
Que eu dia não garanto
Se não lhe faço a roupa em tiras.
Se ela olha pr` ó meu Zé
Ai comadre, nem lhe digo
Que vai ver o que é castigo!
Largo logo o meu “croché”
Vou-me a ela, ai se vou
Com as ganas que eu lhe estou.
Tiro a chinela do pé
Mesmo cheirando a chulé
E vai ver como é que é!
Mas eu fico só a ver
Deixa-a fazer o que quiser
Qu` eu cá estou pr` ó que vier!
Deixando o meu Zé em paz
Ela que faça o que faz
Cá pr` a mim, não vou atrás!
Porque eu cá sou assim
Desde que não me meta a mim
Eu não entro no chinfrim.
E se entendam no final
Cada um com cada qual
Que eu nem sou de falar mal.
E não esqueço às noitinhas
Do terço pelas alminhas
Que já lá estão, coitadinhas.
E cá rezo aos meus santinhos
Pedindo p`los doentinhos
E todos os pobrezinhos!
E é melhor nos levantarmos
Para ir tomar a hóstia
Já viram que ajoelhámos!
Não pensem que não confessámos!?!
(Por Ana C.)
Esquece todos os poemas que fizeste. Que cada poema seja o número um.
*Mário Quintana*