Nossos baús de prata
Lançados á fúria das águas
Que a sofrida existência
Enlouquece,
Em qual jangada, sossegadamente
Repousam?
E, nossas vestes de jasmim
Emudecem
Percorrendo ávidas mãos,
Esmeraldas,
Áridas muralhadas polidas de decepadas palavras
Em sacrifícios de aves mutiladas,
Erguidas
Perante estandartes e alardes
De mentira!
Amanhece ainda o firmamento
Da Saudade
A roçar remanescentes veredictos
De sarça inspirados,
Corroendo arestas de matéria
Na raiz dos povos.
E tu que cantas
No teu canto,
Desafias-me a voz nas entranhas da esperança,
Abraçando o exausto fôlego de sempre
Num gosto de fel,
Vinho de desencanto!
Que nos importam os vendavais
Se celebramos a cumplicidade,
Quando a foz do riso e do pranto resvala
Prenhe de silêncio acoitado na carismática agonia
Das açucenas queimadas,
E a utopia
Ainda estremece o sangue da resistência
Plantado nas cálidas margens da Ribeira!
Grândola ainda floresce?!
Ergamos somente o rosto de Abril
Ao vento!
Celebremos beijos ao divino pó do chão
E perpetuamente cantemos
Imagens de paz
Nos mansos mastros da lúcida lealdade
Em febris searas
Lapidando na memória,
Tua imensidão,
Minha compulsão…
Irmão de Liberdade!
© Célia Moura
© Célia Moura , in “Jardins Do Exílio”