"definir é limitar."
- oscar wilde, em o retrato de dorian gray
"...havendo, pois, o senhor deus formado da terra todo o animal do campo, e toda a ave dos céus, os trouxe a adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que adão chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu nome..."
- livro da gênese, capítulo dois, versículo dezenove
antes de mais nada, quero passar uma breve explicação sobre o que é e pra que serve o adjetivo.
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a função do adjetivo é expressar uma qualidade ou característica do ser. logo, é necessariamente aplicado ao lado de um substantivo. embora certos substantivos expressem qualidade, como por exemplo, bondade, não fariam sentido ao lado de outro substantivo: pessoa bondade, menina bondade...
há dois tipos de adjetivos, que são os explicativos e os restritivos. o explicativo exprime uma qualidade própria do ser, como em "o fogo é quente". o restritivo dá uma qualidade que não é natural do substantivo que a recebe. um exemplo é "o fogo é bonito". o fogo é indiscutivelmente quente, enquanto a idéia de beleza é subjetiva.
classificam-se os adjetivos também em
simples, quando formado por um só radical
escuro
composto, se é formado por mais de um radical
castanho-escuro
primitivo, quando origina outros adjetivos
bom
derivado, se surge de substantivos, verbos ou outros adjetivos
bondoso
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agora, gramática nas gaveta, por favor. passeemos através da visão poética.
a poesia dá asas, por ser, acima de tudo, pássaro: os poemas são penas que os poetas compõem a fim de alar seus leitores. por agrilhoar os tornozelos da imaginação do leitor, os adjetivos são um perigo para a poesia. quaisquer palavras, quando usadas de maneira displicente, podem vir a mecanizar a leitura do texto. ora, se eu sei que a cortina de um quarto é cor-de-rosa, não me adianta em nada tentar imaginá-las verdes. se eu sei que uma mulher é loura, como posso imaginá-la ruiva?
adjetivo, principalmente em poemas, acaba por explicar muito e não dizer nada. transforma a poesia em televisão e o poema no que transcrevi abaixo.
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perceba que a intenção da propaganda, ao utilizar adjetivos, é induzir à compra da revista, qualificando-a completa, premiada, imprescindível.
o que dizer quando um poema é sobrecarregado de adjetivos que pouco ou nada dizem além de qualificar cada substantivo que vir pela frente? uma metralhadora de qualidades cujas balas chegam a ferir mortalmente o conteúdo do poema.
obviamente, vale lembrar o seguinte: muitos defendem seus poemas como sendo seus próprios filhos, chegando ao ponto de agredir em defesa da "honra" dos rebentos. igual cuidado não vejo na hora da elaboração de muitos textos que circulam na internet. oportuna é a analogia com o sexo. na hora de fazer, todo mundo quer: já na hora de cuidar, cada um que aponte o dedo na direção oposta.
será preciso explicar mais, quando confundir é um dos baratos mais legais que a poesia proporciona?