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A Mão Direita do Diabo Parte 2

 
Orfeo suspirou fundo diante do anjo que aparecera, deixando-o paralisado e envergonhado:
-Por que abaixa a cabeça e oculta o rosto, se envergonhando, Orfeu?
-Vendi minha a alma, e não mereço semelhante visão e nem tão maravilhosa visita.
O anjo pareceu sorrir:
-Oras, achas mesmo que a alma é uma mercadoria que se possas sair oferecendo por ai?
-Mas por hora assinei um contrato e selei o meu destino...
-E como podes conhecer o seu destino, se por hora é apenas Orfeu? Pois, digo-lhe, que muitos anjos não conhecem o seu destino, quiçá Orfeu que é apenas menino. Ainda há muito mais entre as linhas criança, e Deus escreve certo por linhas tortas, lembra-se? Quem sabe o seu ato de desespero e tristeza pode trazer mais luz, do que você supôs ter trago em trevas...
E dizendo isso, antes de desaparecer, o anjo abriu caminho para Orfeu subir até a parte alta do castelo, onde um ritual vampírico estava acontecendo.
Dezenas de nobres reunidos num ritual pagão de longevidade e beleza, onde acreditavam que se banhando e tomando o sangue de jovens e crianças, poderiam sustentar a juventude e a beleza eternas. Entre as crianças estava o bebê de Carmine, ainda intocado pelos nobres inescrupulosos, tão mais terríveis e imundos que qualquer demônio ou monstro imaginável.
Então, com o seu instrumento, Orfeo tocou de novo uma doce e rítmica melodia, que embalou a todos numa dança hipnótica, fazendo-os se esquecerem do que estavam fazendo e não perceberem a presença do acabrunhado personagem. Quando deram por si, Orfeo já tinha libertado os sobreviventes do massacre, e já corria com o bebê de Carmine à toda velocidade, pulando muralhas e desfiladeiros como se fossem simples poças d’água numa manhã chuvosa. Como uma anotação pessoal, é preciso se lembrar de que esse tipo de ritual ainda ocorre na classe mais nobre da sociedade, claro, travestida em outra roupagem, uma vez que a nobreza na maioria dos países caiu, dando lugar a uma outra classe não com menos privilégios, chamada política e burguesa, que ainda continua sugando o sangue da plebe, literalmente, como dantes...
Orfeo, por hora cumprira sua missão. Zack lhe apareceu ainda na estrada, instruindo-o a entregar a criança à Carmine.
-Eu não entendo, meu mestre... – disse Orfeu à Zack – Por que ajudou Carmine?
-Por que eu não deveria ajudá-la?
-Você é o diabo... quero dizer... é um demônio,... não ajuda as pessoas...
-Hum... entendo... – sorriu Zack... –Digamos que foi um pedido dela pra mim, assim como o seu...
-Ah sim, a alma dela será sua agora?
-Talvez... Mas por agora apenas deve entregar a criança à sua mãe... É tudo o que precisa saber.
-Tem certeza? Um bebê tão lindo a uma assombração daquela?
-O que disse Orfeu?! – A voz de Carmine de repente surgiu por detrás de Orfeo. Mas ao se virar, que surpresa não o assaltou, ao perceber que Carmine havia recuperado a sua antiga forma... não, mentira, estava ainda mais bela do que havia sido em vida!
-Já não sofro mais, Orfeo. Esta é a minha imagem agora. Graças a você posso seguir o meu caminho, sabendo que o meu filho está a salvo das garras daquelas pessoas, e que o destino dele será diferente do meu, finalmente.
-Vendeu sua alma também? – quis saber Orfeo.
-Sim, mas seguirei em paz o meu destino, sabendo que a minha criança está bem... Adeus... – Dizendo isso Carmine desapareceu em meio a luz.
-Não imaginei que no inferno tivesse luz – disse Orfeo. Zack deu uma gostosa gargalhada.
-Você tem uma ideia errada das coisas, Orfeo. Mas numa coisa você tem razão, Carmine não vai para o inferno.
-Não?! Por que?
-Ela vendeu a sua alma se sacrificando por alguém, o meu contrato com ela não tem mais valor... – E dizendo isso o contrato nas mãos de Zack virou cinzas.
-Sabia disso e mesmo assim a ajudou? Sabia que ela ia se safar...Por que?
-Já disse, você tem uma ideia errada das coisas... (Cont)


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London
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