Um amigo meu, certa vez, me contou a seguinte história: Havia chegado em casa altas horas, e como de costume, sua mãe havia lhe deixado a chave sobre o padrão de luz, para que ele pudesse abrir a porta sem acordar ninguém. Ao chegar, entrou para dentro do seu quarto, se não me falha a memória, às duas horas da manhã , aproximadamente. Conquanto, o mesmo estava sem sono, e até que lhe viesse a vontade de dormir, ligou o som do seu quarto no volume mais baixo possível e se deitou, para que a boa fada do sono viesse lhe salpicar um bocado de areia nos olhos.
Ele conta que o quarto se encontrava na penumbra, quase num breu total, e que conseguia apenas divisar poucas coisas, como as luzinhas do equalizador do som pulado, e um pedaço da parede e do guarda-roupa, que a noite mais clara permitia ver. E foi ali, num canto entre a parede e o guarda-roupa, que ele percebeu o que pensou ser uma figura de pé. No início ele se assustou, porque como me descreveu, parecia exatamente um corpo de alguém em pé o observando, encostado no vão entre a parede. Embora ele tivesse se assustado bastante, não esboçou nenhuma reação, porque logo o seu cérebro começou a racionalizar a situação: Ora, a essa hora da noite ninguém poderia ter entrado ali para atacá-lo ou roubá-lo, já que a porta estava trancada quando ele entrou. A ideia de um fantasma sequer lhe passou pela mente, uma vez que ele é evangélico praticante. Sobrando apenas duas hipóteses: ou seria apenas uma toalha estirada na porta, ou a enceradeira atrás do guarda roupa. Sendo assim, logo se tranquilizou, e voltou a fechar os olhos.
Passaram-se alguns segundos até que ele os abriu de novo, já que o sono não vinha. Foi quando ele percebeu, já perturbado, que a tal sombra pareceu ter se sentado. Já não estava mais de pé como da última vez.
Ai ele começou a confabular... E o cérebro dele racionalizou de novo. Não poderia ser ninguém mais do que o irmão dele, o Rogério, a ter entrado no quarto, possivelmente de fogo, encostado no guarda-roupa, e lá ficado, até cair no sono pesado dos cachaceiros... O cérebro, na tentativa de se situar, arruma cada desculpa...
Ele disse ter chamado pelo irmão:
-Ôh Rogério!... Rogério, vai deitar sô... Vai acordar amanhã todo torto...
Não houve resposta, e nem movimento.
-Ow... ! Vai pro seu quarto...
Nada, de novo.
Ai ele pensou: “Azar o dele, quando amanhecer ele acorda todo empenado e vai deitar. É bom pra ele aprender a ficar bebendo”...
E deixou “ele” lá. Voltou, então, a fechar os olhos, e tentou dormir de novo. Mas não se passaram dois minutos, e ele os abriu de novo. E foi ai que a coisa começou a ficar estranha, pois preta já estava...
A sombra estava de pé ao lado da cama dele agora! Bem ao ladinho. E ele me disse que tentou se levantar, gritar, correr... Mas só conseguia mexer o globo ocular e mais nada! E ele disse que era uma sombra mesmo... Não era uma pessoa no escuro, que por isso fica parecendo uma sombra. Mas uma sombra real, porque quando ele olhava pra ela, via todo o quarto através dela, inclusive as luzinhas do som piscando e piscando.
Sabe, acho que a maioria das pessoas consegue perceber quando alguém está mentindo. Por mais habilidosa que essa pessoa seja, e ainda mais quando a história é longa, ela não consegue sustentar por muito tempo a mentira. Até mesmo mentirosos profissionais, como políticos e atores, você, cedo ou tarde, percebe uma encenação ali. Quanto a esse meu amigo, posso dizer com plena certeza que ele não mentia, eu via nos olhos dele, nas palavras dele, na reação dele, sobretudo, quando ele me mostrou os pêlos dos braços, estavam tão pra cima quanto os da minha nuca na mesma ocasião!
Ele disse que tentou de todas as formas possíveis gritar e espernear, mas nada acontecia. Então, sobrou-lhe apenas voltar a fechar os olhos, rezar, e ver se a sombra desaparecia, já que todas as vezes em que fechava os olhos, a sombra parecia se mover.
Ele fechou, e conta que quando os abriu de novo, a sombra estava agora “sentada” sobre a sua barriga... de frente pra ele! A tensão dentro daquele quarto deve ter sido tal, que se no momento em que ele me contava aquilo, quase escapava eletricidade estática dos olhos dele, que só posso imaginar que lá dentro chovia tempestade de raios! Eu olhava pra cara dos meus outros amigos que ouviam a história, e posso dizer, que nenhum deles ali pensava em duvidar do relato. Estavam mais para, a qualquer momento, um ou outro sair dali correndo e ir chorar no colo da mamãe. Inclusive este que vos fala... escreve.
E quando todos nós achávamos que já tínhamos ouvido o bastante, e que a coisa não podia ter ficado pior. Eis que ele nos diz que o botão de sua calça desabotoou, e o feixe se abriu até o último dente da calça jeans!
Ou seja, além de ele ter visto alguma coisa.... Essa coisa manifestou-se fisicamente no ambiente. Não fora uma ilusão, porque ilusão não tem mão!
Foi nesse momento que, em completo terror e desespero, ele tirou forças não se sabe de onde, e conseguiu se levantar da cama e correr pra rua. Ele não contou pra ninguém da casa por simples vergonha. E ficou sentado no passeio até o dia começar a clarear.
Ele também disse que, no dia seguinte, tinha pequenos arranhões pelo corpo. Como se uma unha muito fina, lhe arranhasse o peito e as costas. Mas ele não sentiu esses arranhões em momento algum! E quanto a isso, é um caso interessante e a parte, por que vira e mexe ele levanta a camisa pra gente olhar, e costuma ter muitos arranhões no corpo dele, arranhões muito finos como se feitos com unha de gato. Ele diz que deita normal e acorda assim...
Alguém que está lendo, se identifica com isso?...
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