Antes tarde
nesta noite em que o dia
se descalçando
abriu caminhos a pegadas
demarcadas onde me fiz
escravo na tua morada errante
Antes tarde
neste dia perfumado de lentidão
onde emolduramos nossos seres
inseparáveis
que depois abatidos pela monotonia
cingida nos lamentos dispersos
que respiro eximindo
minha calmaria invulnerável
Antes tarde
que nunca
e que nunca até me vício
miserável
por teus acanhados gestos
de longanimidade singular decifrável
ou que compartilho expectante
como poeta trajado de
palavras irrefutáveis
Mais tarde
pereçam todas as oportunidades
onde ficaram denunciados
adoçicados gomos de poesia
onde disperso em nós todo
aquele oceano indesvendável
alimentado por teus selectos mares
deambulando em carrocéis
alegremente colhidos
no charme que transpira
cada insuspeito acto de vida
Antes esta noite
que depois de
outro dia apressadamente desfeito
na invisibilidade do tempo
recalcado em milímetros
de emoção que exploro
na exactidão do teu amor
onde me alojo
Antes hoje
que nunca
antes amanhã
que ontem
antes que depois
amanhã nunca complete
minha estória repleta
de atalhos
uns inquestionáveis
outros habilmente traçados
no assalto final que farei
aos nossos desejos inseparáveis
Antes nunca
por nunca querer-te
e depois
deixar-te hipotética em cada
esquina onde mora
o desalento inesperado
transladado nas artes do tempo
que morre boquiaberto
e não mais me revigora
Antes, amor
eu nunca vivesse
acorrentado em cada
noite desertora
acordasse amanhã
sem mais chorarmos inultimente
sem mais morrer plenamente
mas
antes tarde que nunca
te denominar literalmente
em cada drible desta poesia
que bendiz meu verso atrevido
alucinado pelas memórias
que reescrevo sorrateiramente
FC