Terei sido eu que perdi quando me disseste adeus?
Na gula da praia pisavas já o vómito das marés
E ao longe endossavas bocados de pão aos míseros dos peixes
Quando uma ave migrante acudiu até à duna morta
Dizendo sim às palavras que são mais do que a areia
Essa ave louca parecia-se no olhar àqueles velhos profetas
Que assustavam os animais dos montes com gestos veementes
Porém suas orações instalaram em mim uma cordial compaixão
Abri os braços e tentei comunicar mas logo ela se sumiu
Na direção daquela que entretinha o passo no bulimento
E então a ave e a mulher fizeram-se unha e carne
O sorriso de uma transmutou-se numa cadenciada compreensão
A ave lançou-se num tributo picado, fez nascer um riso estridente
O lodo castanho foi mais que o azul do mar
Nenhum peixe escapou, seus bocados semi-digeridos eram já dedos
Os teus dedos, as minhas penas, a nossa praia
O sol leitoso unindo a distância, uma mensagem
Ainda me amas secreta sereia? Não falo eu já tarde?
Subimos de mais, a costa é grande, amor
Vê como demorou o vento, vê como foi longa a espera...