Poemas : 

olhos de Néon

 

será que serei a ser apenas mais um continente infundado
alagado em seus tenebrosos faróis de ilusões?
andarei apenas pelos véus de musgos fingindo ser duro
mais um lar com ar de escuridão?

será que verei apenas o lamentar das sereias mortas
decompostas pela costa insulada denegrida pelo muro
do mal agouro da triste e bela indecisão?

ou verei os verdes campos de espinhos como porta torta
do pífio e intransigente mar de respostas perdida nas correntezas?
ou serei rasgada pelas mordaças imaginárias que não mais me trazem respostas?

observarei de longe os amantes bailando sobre o peso das correntes sobrepostas nas almas torturadas
explodidas e corroídas ?

deixarei os explosivos trancados nas malas espalhadas pela areia que beira o desespero desgostoso do gosto agridoce do açúcar de minhas feridas?

confesso que ainda anseio pelo delírio que fará com quem sabe um dia alguém se apaixonar pelo silencio exaustivo da exatidão e virá a mim como perdão




thess

 
Autor
Thessica
Autor
 
Texto
Data
Leituras
991
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
26 pontos
8
5
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Gyl
Publicado: 17/04/2015 20:27  Atualizado: 17/04/2015 20:27
Usuário desde: 07/08/2009
Localidade: Brasil
Mensagens: 16148
 Re: olhos de Néon
Tantos questionamentos! Uma mais bonito que o outro. Bailei nas ondas das tuas linhas tão saborosas. Gostei muito. Abraços, Thess!


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 18/04/2015 06:06  Atualizado: 18/04/2015 06:06
 Re: olhos de Néon
Bela proza.



Nossa ignorância tem calma pra resistir.
Descomunal e somos invertebrados.



Suas dúvidas tem o meu hierático.





Delirar é o desejo mais inculto desde o que nos faz pensar.



Seus olhos já disseram.


Eu não quero perdão e tu escreves poemas.




Abraço,..


Enviado por Tópico
karolis.br@sapo.pt
Publicado: 18/04/2015 23:28  Atualizado: 18/04/2015 23:29
Da casa!
Usuário desde: 17/04/2010
Localidade: Cascais. Portugal.
Mensagens: 368
 Re: olhos de Néon
Devo dizer-lhe que decifrar o enigma que este texto poético oculta, não é tarefa fácil. Já invoquei os deuses da poesia em busca de auxílio e ainda não obtive resposta. O Apolo e as Musas devem estar muito ocupados. No entanto, cada estrofe desse 'Poema mistério' me sugere mil e um pensamentos. Será essa a intenção da autora? Desafiar o discernimento do leitor? Se sim, conseguiu completamente.

Gostei de ler! Gosto dessa sensação misteriosa e intrigante!

Parabéns pela tortura!rsrs Machuca que eu gosto!

Viu bem o que o seu texto me fez? Quanta maldade, meu Deus!!!

Carlos. Bjs


Enviado por Tópico
RicardoC
Publicado: 30/04/2015 11:32  Atualizado: 30/04/2015 11:37
Usuário desde: 29/01/2015
Localidade: Betim - Minas Gerais - Brasil
Mensagens: 4972
 Re: olhos de Néon
Saudações, Thessica.

Sinto-me feliz em descobrir o teu universo poético, a tua sensibilidade plasmada em imagens surreais e oníricas. Sim, esse poema me despertou muita atenção por tua obra.

Começas comparando-te a uma espécie de Atlântida submersa, oculta de tudo e de todos e ainda inatingível mesmo aos mais sagazes aventureiros. Revestida por véus de musgos (algas marinhas?) finges ou encenas uma realidade obscura, onde sereias em decomposição (escatológico, mas muito original!) vaticinam um triste fim até para os monstros mais cruéis e poderosos face à indecisão.

A partir da terceira estrofe, há uma alternativa: o eu-poético vem para terra firme, mas vê-se andando por campos ínvios, comparáveis a uma porta torta (a alternativa ao naufrágio no mar parece um descaminho em terra...) que algum pífio e intransigente franqueou. Pífio, aliás, que te tortura com mordaças imaginárias.

Voyeur, observas a difícil dança de casais acorrentados (belíssima imagem!) e igualmente torturados enquanto ensaias, tu mesma, o terrorismo de plantar malas para explodir na areia (praia?) como único consolo possível diante de tantas feridas tuas. Só o final me decepciona um pouco, apesar de crê-lo honesto, pois, figura-te presa à esperança de que há-de aparecer alguém capaz de se encantar por esse cenário de loucura e silêncio, cujo magnânimo perdão teu bastará para construir algum palácio onde a vida será significativa. Desculpe-me se estiver errado, mas me pareceu não um amante, sim um príncipe encantado aquele que esperas...

Cordialmente, Ricardo Cunha.