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Sem título II

 
Estremeci quando te aproximaste. Não que não estivesse a contar com a tua chegada, mas a tua presença provoca uma irremediável inquietação em mim, independentemente do tempo e do espaço. Vieste de mansinho, tal como o anoitecer invernoso, franzindo o rosto negro como o dia de ontem. Apenas negro...não chuvoso! As lágrimas não são dignas de percorrer o teu rosto e, nem tu, lhes dás essa oportunidade.
- Não me olhes assim… – Pedi-te, virando bruscamente o rosto e dando um passo traseiro.
- Porque te escondes? É inútil! Não consegues entender isso? – Perguntaste-me prendendo-me um braço com um sólido abanão.
Emudeci, como emudeço sempre que me questionas com perguntas que me ferem. E mesmo sabendo que me ferem, nada fazes! Ou simplesmente faze-las na mesma!
- Esconder-te do mundo não está ao meu alcance, nem ao de ninguém. – Puxaste-me contra ti e, como forma de consolo, disseste – Desculpa se te iludi, mas só tenho o meu ombro para te oferecer… sabes bem.
- Sim, eu sei… – disse pousando a cabeça no teu ombro, que já gasto deve estar de tanto a suportar esta, e muitas outras vezes.
Não ouvi palavras tuas em retorno, se as disseste, provavelmente foram tardias, já não as ouvi. Mergulhei num sono doce que só o teu ombro tem a capacidade de me proporcionar.

 
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Earnshaw
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