Quando eu morrer e no frescor da lua
Da casa nova me quedar a sós,
Deixai-me em paz na minha quieta rua...
Nada mais quero com nenhuma de vós!
Quero é ficar com alguns poemas tortos
Que andei tentando endireitar em vão...
Que linda a eternidade, amigos mortos,
Para as torturas lentas da Expressão!...
Eu levarei comigo as madrugadas,
Pôr de sóis, algum luar, asas em bando,
Mais o rir das primeiras namoradas...
E um dia há de fitar com espanto
Os fios de vida que eu urdi, cantando,
Na orla negra do seu negro manto...
Mário Quintana (1906-1994), In: Poesia completa, Ed. Nova Aguillar, 2005, p. 121.