Os caminhos estão cheios de tentações
Os nossos pés arrastam-se na areia lúbrica...
Oh! Tomemos os barcos das nuvens
Enfunemos as velas dos ventos!
Os nossos lábios tensos incomodam-nos como estranhas mordaças.
Vamos! Vamos lançar no espaço – alto, cada vez mais alto! – a rede das estrelas...
Mas vem da terra, sobe da terra, insistente, pesado,
Um cheiro quente de cabelos...
A esfinge mia como uma gata.
E o seu grito agudo agita a insônia dos adolescentes pálidos,
O sono febril das virgens nos seus leitos.
De que nos serve agora o Cristo do Corcovado?!
Há um longo, um arquejante frêmito nas
palmeiras, em torno...
A Noite negra, demoradamente,
Aperta o mundo entre os seus joelhos.
Mário Quintana (1906-1994), In: Poesia completa, Ed. Nova Aguillar, 2005, p. 205.