Saí pra sonhar
regressei nos teus exclamados
cânticos de vida
juntei todas as travessuras
decantadas na bagunça
do tempo
envolvi palavras dóceis
no mesmo dicionário
onde reescrevo cada instante
de um instante distraído onde
mora nosso destino
visionário e delirante
– Saí por aí
contendo o tempo
já sem tempo
embrulhando a vida
todo amor que se revela
eclipsando desamparados ventos
em novas parcelas de juras eternas
– Saí deste cenário
tornei-me extinto
reservei na própria existência
uma pacata lembrança
de nós
afungentei manhãs encarceradas
no meu calendário intemporal
reafirmei meus passos inseguros
quando abotoei de vez
no esquecimento
as culpas
as incertezas
as indiferenças
hoje inevitavelmente destinatárias
aos mesmos retratos esquecidos
à mesma saudade ajustada
distraída
em brados póstumos d’improviso
– Saí por aí
recolhendo teus esmerados enfeites
que desaguam
no rigôr deste estuário onde
se despenham nossos silêncios
nossas tentações
arquivadas
no semblante vagabundo quase heriditário
onde demos à luz
tantas sinuosas palavras de um vocabulário
trajado de amor
e poesia descomedida
adornada em gargalhadas vertiginosas
qual breve assomo delicado
onde derramamos cada meiga
expressão derradeira
de afetos apetecidos
assim loucamente acometidos
FC