Doces pensamentos e devaneios, socorrem-se da insatisfação mundana.
O ser humano é em si um ser insatisfeito, procurando constantemente algo que não existe, a felicidade plena – uma utópica filosófica, cujos ancestrais procuraram compreender e cuja batalha jaz perdida nas profundidades oceânicas dos sentimentos sulcados nos corações sofridos.
Quanto mais busca, mais sede tem de alcançar, o que sabe ser-se inalcançável. Essa busca torna-se martirizante, viciante, alarmante e destruidora de almas, outrora translúcidas!
Já se não contentam com os pequenos gestos, com o que verdadeiramente deveria importar-lhes. Vivem num mundo fantasmagórico, ilusório, teatral, enganadas pelas suas próprias visões vãs, alimentadas por realidades virtuais, que lhes envenenam a alma, conspurcando e matando todas as flores que antes colhiam e veneravam. Flores que outrora lhes perfumava a vida, a beleza, algo que hoje lhes foge por entre os dedos!
Se essa alma encontrou o verdadeiro amor, e for irrigada pelo vírus do descontentamento, chega a uma fase em que este já não lhe basta, falta sempre algo, passando a encontrar imperfeições, onde antes via perfeição, paixão. Onde antes via pureza, hoje vê fealdade, transtorno, insatisfação, ressentimento: farta-se do afecto, do equilíbrio, do amor!
Buscam um novo príncipe, que lhes preencha os devaneios e lhes concretize os desejos, até este se tornar num ser imperfeito, cujos sonhos já não lhe preencham as medidas.
Aí fartam-se e descartam-no, abandonando-o a sua sorte. Ironicamente esse abandono, poderá ser a salvação dessa alma devassada pela ilusão perdida das almas insatisfeitas e envenenadas.
A ilusão conduz tais almas a um caminho de vulgaridade, perdição, perca de identidade.
A busca tresloucada de algo que não existe, consome esses corações incautos, pobres de espírito, cuja nobreza morreu. Passam a ser meros objetos excretáveis nas mãos de alguns prevaricadores, que apenas o são por consentimento mútuo (também eles almas perdidas sem rumo, vivendo num limbo de podridão e negação), que como abutres se alimentam dessas mentes frágeis, sem amor-próprio, que por elas destroem a sua paz e a vida de mares calmos, que haviam alcançado tão sabiamente. E então porque o fazem? Também procuram a corrupção dos seus valores, a destruição das suas débeis existências? São movidas pela ilusão de uma sociedade que lhes impinge ofertas vazias, que nada possuem no interior, apenas o nada … um invólucro vazio, que nada preenche mas tudo destrói!
Em boa verdade, a experiência humana é um livro milenar, que deveria ensinar-nos a ler-nos; ensinar-nos a sermos; a estarmos; a amar-nos; a partilhar-mos; a preocupar-nos com o próximo - quer através das nossas próprias vivências, quer através das histórias de vida de terceiros.
Buscar a auto-satisfação egoísta, centram a vida em futilidades, inutilidades, seres que mais tarde ou mais cedo se tornam repulsivos para si próprios, quando fazem mea culpa e se dão conta do ressentimento em que se tornou a existência e sentem-no.
São patronos que vivem num púlpito de céu, reinando fracções de tempo ínfimo, que logo se esfumam. Apetecíveis momentaneamente, mas descartáveis … a ilusão é de facto um caminho alarmante e perigoso que apenas conduz à perdição da génese humana, matando as almas, levando as mentes à loucura!
João Salvador – 07/04/2015
In divagações e dissertações
João Salvador
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