<br />Caso me surpreenda esta imerecida morte, que me acompanha desde que brilhou em mim a vida.Na travessia desta rua ou mais além no sinaleiro na faixa de pedestres.Nem meu sangue, caso me seja reservado este fim, regará esta terra que amo, recoberta de asfalto o levara para as galerias junto as excreções, secreções, sujidades da cidade aos seus esgotos.Acantanado que fui por ela nesta viela sem saída cada vez mais me aproximando do fim,nesta minha terra de muitas sombras e pouco sol.Mas porque falar em morte, quem ama tanto a vida, apenas cansei de ignora-la e olhar para os lados como se não existisse esta única certeza que temos em vida.Como ao ignorar a miséria as desigualdades, hipocrisias e corrupção não as eliminamos da vida apenas da vista, ao contrario, nossa indiferença as faz maiores e mais presentes, portanto nada mais natural que encarar o fim da vida.Se me fosse permitida a escolha, gostaria de morrer amando, não fazendo amor, pois amor não se faz se constrói, fazemos sexo, como diz minha amiga Mônica.E neste ato sexual de construção do amor, me deparar com ela e virar luz ou trevas, ou seja o que for.Apenas resguardando meu ultimo amor da surpresa indesejada de amar um morto, cair ao seu lado como se preso estivesse a um profundo sono.Ela sorrindo de ter-me saciado os desejos ao ponto de tal cansaço, tomar seu banho vestir-se, fazer menção de tentar me acordar antes de partir e me presentear postumamente com um pensamento - Que lindo meu homem dormindo como um justo !. Ir-se feliz, leve e faceira,deixando intocada minha ultima ausência, esta sim merecida, pois como Neruda, confesso que vivi.
Que meu abraço encontre o seu sorriso.
Carlos Said