No universo a caridade
Em contraste ao vicio infando
É como um astro brilhando
Sobre a dor da humanidade!
Nos mais sombrios horrores
Por entre a mágoa nefasta
A caridade se arrasta
Toda coberta de flores!
Semeadora de carinhos
Ela abre todas as portas
E no horror das horas mortas
Vem beijar os pobrezinhos.
Torna as tormentas mais calmas
Ouve o soluço do mundo
E dentro do amor profundo
Abrange todas as almas.
O céu de estrelas se veste
Em fluidos de misticismo
Vibra no nosso organismo
Um sentimento celeste.
A alegria mais acesa
Nossas cabeças invade...
Glória, pois, á Caridade
No seio da Natureza!
Estribilho
Cantemos todos os anos
Na festa da Caridade
A solidariedade
Dos sentimentos humanos.
Augusto dos Anjos (1884-1914), poeta.
Imagem: Pablo PICASSO - Science and charity (1897)