Cheira a vento nesta primavera,
que afasta as nuvens e traz o frio
nem parece dela, invernia desconfio,
ou a estação já não é o que era...
Tanto frio está que se desespera
pelo verão quente, daquele estio,
mas o vento que venta com brio
arranca a esperança que já houvera.
As andorinhas voam indiferentes
a todas estas oscilações de humor
porque passam as estações e gentes.
Faz-nos falta a lágrima de calor
e essa primavera de dias quentes
em que tudo é fácil, até o amor.
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
Por regra, não respondo.