O Sol empapa a gente de suor
e o barranco agita-se abrasador.
Como o de uma vigorosa pastora
na primavera o labor escalda as mãos.
Desfalece a neve, enferma de anemia,
em ramificações de debilitadas veias azuladas.
Mas vibra de vida o estábulo
e espelham saúde os dentes das forquilhas.
Oh, estas noites, estes dias e estas noites!
O tamborilar das gotas a meio do dia,
pedacinhos de gelo a fundirem-se nos telhados,
chilreio de arroios que não dormem!
Tudo escancarado, a colheita e o estábulo.
Na neve as pombas debicam a aveia
e, de tudo o que é vivificante e reconhecível,
aromatiza o fresco ar o estrume.
Boris Pasternak, In: O Doutor Jivago, Público/Mil Folhas, 2002: 551, 553, vencedor do Nobel de Literatura.