Costuma dizer-se que o mundo é muito pequeno... Pois eu discordo com essa teoria. Quanto mais tempo passa, mais tenho a prova de que o mundo é muito grande e cheio de lugares e de culturas deslumbrantes para descobrir.
Por mais que possamos pensar que já vimos muitas coisas diferentes, e que já nada nos pode surpreender, a verdade é que nos deparamos com uma imensidão de património mundial para nos maravilharmos com a sua beleza e história.
Estava bem disposta, mas, também, num daqueles dias em que mesmo rodeada de pessoas, a minha mente estava tudo menos presente, um daqueles momentos offline em que falam à tua volta, mas não ouves nada do que estão a dizer. Viajava para além das quatro paredes da minha casa e perdia-me nos pensamentos com facilidade. Apetecia-me sair deste lugar que apesar de ser a minha casa, começa a tornar-se como que uma repetição de eventos, imagens e conversas que por mais que o tempo passe, mantém-se sempre iguais.
Precisava de um lugar diferente, de pessoas diferentes, conversas diferentes, de alguma aprendizagem que cada vez mais sinto que está bem distante daqui e daquilo que as pessoas estão habituadas a considerar o “normal”.
A verdade, é que quando viajamos a primeira vez, não há retorno dessa experiência. Dai para a frente, só queremos mais e mais, e quando voltamos a casa, também nunca mais nada vai ser igual. Já vimos demasiado, já experiência-mos demasiado. E esse bicho, essa droga benigna torna-se viciante, torna-se uma necessidade como beber água todos os dias. Um instinto que fica, e que faz com que nunca amais sejamos os mesmos.
Se assim o quisermos e tivermos imaginação para tal, a nossa mente, pode, na realidade, sem sairmos do mesmo sitio, fazer-nos viajar por tantos lugares diferentes quanto existem por esse mundo fora. Basta apenas uma dose de imaginação e palavras de quem por lá já passou, para que um mundo totalmente novo abra portas diante dos nossos olhos.
Uma vez, ao falar ao telefone com uma senhora enquanto estava no trabalho, ela dizia-me que já tinha viajado muito sem sair de casa. Que sabia não haver comparação a estar no próprio local, mas, que no entanto, devido á impossibilidade de sair de casa, lia muito, e via muitos filmes, documentários e via muitas fotografias do mundo.
Hoje ao pensar nessa conversa, e também ao ver imagens de lugares que não fazia ideia que existiam, ao poder apreciar a beleza e a magia que existe no mundo vinda directamente de alguém que já viu e conheceu esses lugares ao vivo, deparei-me com este pensamento: Uma imagem, uma fotografia, um video, não são apenas memórias, mas também uma forma de transportar e fazer recordar todos esses momentos a quem já lá passou, mas também, para quem conseguir ter uma boa dose de imaginação misturada com um ouvido e um olhar verdadeiramente atento a quem nos conta essas histórias através de palavras, podemos realmente viajar sem sair de casa. Caminhar por aquelas ruas onde o tempo parou, sentir os cheiros das especiarias e iguarias utilizadas naquela cultura, caminhar dentro de mosteiros, castelos, tumbas, casas antigas e mercados. Sentir a chuva, o vento, o sol abrasador do deserto. Ver claramente as cores da natureza que são tão diferentes de lugar para lugar, sentir os cheiros das flores, fechar os olhos e sentir o vento a passar por nós enquanto as árvores abanam com a sua passagem. Apreciar a beleza da paisagem do topo de uma montanha.
Sabemos assim, que um dia, quando visitarmos esses mesmos lugares, (sim porque a partir do momento que conhecemos, a ânsia torna-se maior em agarrar nas malas e saltar para o mundo lá fora e vamos ganhar cada vez mais aquela ânsia de ver e sentir toda aquela energia que conseguimos espelhar ao olhar para as fotografias. Não queremos ser turistas, queremos sim ser viajantes, Transhumantes... Queremos pertencer a cada lugar como se realmente fossemos de lá e caminhar em cada pedaço de terra como se fosse nossa. Ir onde ninguém vai. Atravessar caminhos nunca antes atravessados, dormir sobre as estrelas, e saltar de lugar em lugar. Somos nós que nunca nos cansamos de aprender, e de correr atrás dos nossos sonhos, enfrentar os nossos medos, mesmo quando isso implica ir até ao mais assustador dos locais. Somos considerados loucos, mas a verdade, é que é dessa forma que conhecemos e aprendemos sobre a verdadeira magia que cada lugar encerra.
Viajo, viajo cada vez mais, e honestamente, estou feliz, porque sei, que quando visitar aqueles lugares, porque sei que o vou fazer, estarei lá, de alma e coração.
Deixo-vos aqui, com este pensamento que é o de quem é um verdadeiro viajante e uma inspiração. Obrigada por me dares a honra de escrever contigo e obrigada pela tua amizade.
Rita.
Há lugares encantados, luzes felizes onde nos deixamos ficar e levar pla beleza natural, das coisas longas e insuspeitas, por tudo aquilo que significam, por toda a história e por quem já passou por aí, ainda antes de nossos avós ou tetravós. Mas também porque, por algum motivo, ali, tudo faz mais sentido como em nenhum outro lugar. A vida transforma-se, recria-se e torna-nos férteis e vivos, mais nós. Um lugar que os outros encaram, mas não vêm, pelo menos, não profundamente, assistem apenas de bancada ao sofrimento na sola dos pés gasta da gente. A magia desfilará diante dos olhos vossos senão vos tornares meros espectadores de pau e plateia de prato e mesa ou de galeria de sofás cama.
Agora que procuro formas verbais para comemorar sensações, penso que todas as noites sonhei rostos, mapas e formas, gentes onde tudo é maior que eu.
Não quero estar em lugares sem o talento do essencial com rótulos falsos ou que tresandem ao mesmo conteúdo que possuo e quero derreter nas veias. Quero sítios que colidam comigo e me nidifiquem e modifiquem tornando-me inabitável. O lugar-comum que visto hoje em dia.
Há lugares que são, por defeito, o que carregamos e há outros que nos carregam com efeito para dentro deles e nos descobrem, nos reinventam , nos desobedecem para nunca mais recuperarmos a cidadania de que tanto nos orgulhamos, a respeitabilidade que com tanto afã nos iludiram desde crianças.
Quero ser rodeado por sentimentos de frio de chuva de breu e onde o caminho que escolho seja incerto e tampouco conheça progresso mas seja descaminho da minha ao palato e me dêem motivos para fugir de novo pra dentro e ao mais fundo de mim próprio.
Namastibet Jorges.