Cansam-me as marés presas num poema.
Naufragam-me de tanto mar feito rio…
O mar é um gigante sem margens,
Grita aos sete cantos: Liberdade!
Cansam-me as primaveras…
Enquanto o meu corpo gela.
Fingidos!
É Inverno, falem-me poemas,
Da neve fria, dos pés gelados
E da chuva que eu tanto amo.
Pintem a lareira nas casas de pedra,
No conforto simples da minha aldeia,
Das gentes que os pés aquecem
Calçando dois pares de meias.
Esqueçam as palavras emproadas,
Poema é feito de gente.
Oh! Como eu gosto do poema,
Farrapos suaves e puros,
Descaindo de um céu cendrado…
Monstro que me rouba
Todas as estrelas …todo o universo,
Todo o cosmos que me
Arranha na garganta.
Não quero saber das rimas,
Quero ler e sentir o meu corpo
Estalando vivo nas palavras.
Quero sentir o poema com asas,
Declamá-lo como o mar faria,
Perdendo a voz…
…Sentindo-me poema.
de Maria dos Santos Alves