Lembra de como o vento uivava;
Pela fresta da janela;
Do trovão assustador;
Que de medo nos matava;
Não temo mais chuva;
Mas não me esqueço;
De quando corriamos pra debaixo da coberta;
Meu mundo agora é novo, cada dia uma descoberta;
Tenho saudades dos meus medos;
Eles controlavam meus impulsos;
Que me balançavam no pneu pendurado na árvore do jardim;
Tem algo guardado para mim;
Remexi, o sótão escuro;
Acho que os fantasmas não moram mais ali;
Lembranças da família que talvez eu esqueci;
Nossa! Meu cavalinho de balanço;
Aquela caixa lá em cima;
Que legal!
Agora eu alcanço;
Achei as fotos de meu avô, escavando nosso poço;
Me perco nas antiguidades;
Nossa casa, nossa verdade;
Cacarecos em variedade;
O vitro parecia tão grande lá de baixo;
Meu avião de montar e pintar!
A cadeira de balanço da vovó ninar;
Que saudades de vocês;
Me perdi me desculpem;
Ainda há tempo não se preocupem;
Quero de orgulho;
Transformar minha saudade;
Um dia deixarei também alguém sentir minha falta;
Poderiamos viver para sempre;
Olha lá o livro de receitas;
O cesto de fazer colheita;
Ainda resta uma amora seca;
Ainda resta um amor saudoso;
Vou tentar ser mais cauteloso;
Tenho sido egoísta;
Vou ser mais altruísta;
Nostalgia;
Rebeldia;
Saudade;
Liberdade;
Acho que da última;
Fiz de minha vida;
Livre;
Só minha;
Chegou a hora de honrar;
O que foi ensinado;
Estou de saudades condenado;
A falta que vocês me fazem;
Não pode a nada ser comparado;
Fico feliz da nossa casa;
Mais uma vez eu ter entrado;
Minha herança;
Foi ter sido bem educado;
Quando criança;
E ter me tornado um adulto;
Meio complicado;
Vou fazer pão com manteiga e açucar, hoje;
Comer de sobremesa cenoura ralada com suco de laranja;
Beber da água do poço;
Trocar a corda do pneu;
Obrigado por me dar;
O que um dia foi seu......
Marcio Corrêa Nunes