Me dói a fundo porque te vais
Mesmo que te vás pra cedo regressar
Mas isto minha alma não compreende
E paira, sozinha, sob os impenetráveis
Segredos celestes
E eu nem sei o que é isto que eu sinto
Eu nem sei se este amor é tão saudável assim
Sinto-me esmagado sob um milhar de turbilhões
E ontem à noite quase retorno aos braços da solidão
[Porque sabia que estarias partindo]
Mas voltarás; voltarás!
Porém isto ao meu coração pouco importa
Acordei hoje e havia só o sol
E uma imensa cidade vazia
E morreu um pouquinho a cada passo teu
O desejo de ter-lhe pra conversar
O desejo de ter-lhe ao menos por perto
Porque, sinceramente, ainda me acomete o medo
E me dá calafrios, e pensamentos confusos me aturdem
E eu me encontro jogado à sorte das distinções verbais
À sorte de amizades intolerantes e dias cinzentos
[Salvo pelos livros e a recém-admitida disciplina]
A procrastinação e as errantes e vagas ponderações
Deste-me, sem consciência, alguns dias pra pensar
Deste-me muito mais que vida, nos últimos dias
que se foram
E nem é a mim que queres - nem é a mim!
Queres a outro - peças pregadas pelo destino
Estarias, enfim, de mim utilizando pra até ele chegar?
Estarias em mim buscando um mero substituto?
Eu não quero levantar as tuas saias para que te livres da lama
Eu não quero varrer o teu chão e ser eternamente o teu submisso
Eu quero algo que podes me dar, mas crês que isto eu já possuo
Mas não possuo; nunca o possuí
Eu não quero ser o confidente
A quem desabafas todas as noites sobre outro
Nem quero amar-te sabendo que a outro poderás escolher
[Basta que ele a ti retorne, choramingando,
de rabo entre as patas]
Não, [eu não quero o drama nem as convenções sociais]
Eu quero o tu que a mim ofereceu o mais perigoso dos segredos
Eu quero o tu que me jurou proteção
Num dia em que em nome de mais ninguém tocou
Quando regressares, talvez me encontre vazio
Como estive vazio todos esses anos [salvo pela poesia]
Talvez esteja afundado num novo disco ou Tv Show
Talvez tenha pensado e repensado a vida e visto
Que nada disso foi feito pra mim
Que nada disso vai mover-se qualquer passo em qualquer direção
Que o destino me lega amor só pra que eu aprenda que amo sozinho
Que amor é só uma palavra tola sob a qual nos escondemos
E legamos a inteireza futura e presente de existir.