E se deixássemos
os sonhos
nos invadir sem opção sequer
de contornar os destinos
com data marcada para molestar
antecipadamente
o que resta da ausência
no fim de cada sílaba modulada
pelos ponteiros do tempo que cessa.
E se deixássemos
que a tarde nos procure
e forre a noite com chamas
incandescentes e imortais
ancoradas nos degraus que sustentam
o edificio reerguido na penumbra do dia
expectante disponível e consensual
E se deixássemos
correr pró mar este imenso
rio de incensos
que nos perfumam
e confortam distâncias
se inutilizássemos cada hora perdida
nos detalhes do tempo
desconhecendo
o muito que esquecemos
o tanto que perdemos
o que mais aprendemos
assim comprometidos
revendo ansiosos
cada detalhe do quotidiano
cada eufemismo deleitado
na sapiência deste verso
cada vez mais insano
E se deixássemos
sumir assim devagarinho
a saudade quase urbana
proíbida na intemporalidade
dos nossos desencontros
e medíssemos a métrica
existente nas palavras minuciosamente
plantadas na fusão derradeira
dos nossos seres…
e se deixássemos tudo ir,
amando devagarinho recíproca…e
verdadeiramente !
FC