Prosas Poéticas : 

O teatro da vida ou como se morre no fim de cada acto

 
Luzes, música, acção!
A peça vai começar.
-"Um poeta, por favor!... Para declamar..."
Pode ser o Viegas...
Esperem,... calem a música, apaguem as luzes... O Viegas não pode ser! Esse já é livre... Tem de ser um preso... Um preso como eu... Algemado à vida.
Acendam as luzes! Ponham a música a tocar! Na assistência não quero ninguém. Só rosas... rosas vermelhas... da cor da vida que em breve cobrirá este palco.
Este palco... é a minha morte, aquela que desde sempre construí, com amor, com garra, com luta, com paixão. Este palco é toda a minha vida.
Calem a música. Iluminem o palco. Esta vida á qual ponho fim foi feliz. Por isso tem de acabar enquanto ainda há felicidade. A morte que construo desde que nasci, é livre! LIVRE! ouviram? Vou-me matar?! Não, apenas vou finalizar a grande construção da vida. Sim, sinto-me livre. Não posso mais viver, a vida prende-me, agarra-me. Agora, vou começar livremente a viver.
Chegou a hora? Não sei! Dentro de segundos já me matei - já não sou a que agora penso ser. Sou livre de escolher, de ser quem quiser, amar ou morrer.
Adeus, ou... até ao próximo acto
Cai o pano...

(Homem do Leme - 29/08/1997)








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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 07/02/2008 21:21  Atualizado: 07/02/2008 21:21
 Re: O teatro da vida ou como se morre no fim de cada acto
Adorei esta descrição de vida como quem acende e apaga uma luz e se eleva no sentir as mãos frias de gestos carentes.
Parabéns

ConceiçãoB


Enviado por Tópico
Mel de Carvalho
Publicado: 07/02/2008 22:06  Atualizado: 07/02/2008 22:06
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Usuário desde: 03/03/2007
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 Re: O teatro da vida ou como se morre no fim de cada acto
Perdões, não o havia ainda lido. Gostei, sinceramente.

"o Viegas"... Mário Viegas? Belíssimo declamador, sem igual...

Melhores cumprimentos
Mel