MARIA DO CÉU
De ser Céu, já nem sabia,
Só a chamavam Maria,
Maria do Céu e Inferno,
Maria do Verão e Inverno,
Maria-Mãe e Mulher
Dia-a-Maria a morrer...
A morrer ela vivia
Sem Céu, apenas Maria
Que um dia fora Ceuzinha -
Do céu agora só tinha
Quatro catraios ranhosos,
Tão doces, tão amorosos...
Quatro pedaços de si
Por eles, sempre lhe vi
Um sorriso nos seus olhos,
E a força apanhada aos molhos
Do chão áspero que pisava,
Do ar que à faca cortava...
E o seu nome “Maria!...”
Tantas vezes o ouvia
Gritado em raiva e exigência,
Magoado em escárnio e impaciência...
E o seu corpo miúdo,
Tantas vezes fim de tudo...
Pobre Maria de Céu,
A quem o fado não leu
Histórias de fins felizes...
Mesmo amando os seus petizes,
Num dia de mágoa e dó,
Maria escolheu ser só...
...Céu. Sem nuvens e sem raízes.
Teresa Teixeira