Se quiseres saber o peso exacto que me verga,
minto-te,
dizendo que esta manhã consegui erguer-me
e que as minhas costas são prados verdes
pintalgados de arco-íris.
Engano-te com a imponderabilidade grácil
de um poisar de borboleta
na minha mão,
ou com o sorriso fácil
de quem diz
que tenho coração.
Minto-te no arrepio da lâmina
e na insustentabilidade da alma
dentro do meu corpo trespassado
de águas em rescaldo
de tormentas.
Talvez te peça.
para saberes do profundo,
que, por um instante,
mandes parar o mundo,
os rios,
as fontes,
as nuvens,
as chuvas,
as contracções de dor e de prazer
na superfície da vida a acontecer
em cada célula deste ciclo
de águas turvas.
Se me perguntares o peso do mundo,
a parábola exacta que me curvou,
minto-te:
digo-te que risco em contravoo
o céu invertido dos sinais
e vou ao fundo
apenas porque sinto
que viver é agora...
ou nunca mais.
Teresa Teixeira