Sentado à sombra da mulemba, observo o cintilar da lua no céu calmo e sereno que numa harmonia natural com estrelas candentes, proporcionam bonança aos mares rebeles e encantam donzelas nas noites carnavalescas do rio. Absorto nessa meticulosa contemplação, me descurei de cuidar da minha donzela que ao meu peito dormitava desajeitada, afaguei-lhe o cabelo que dançava desalinhado com o vento, abriu lentamente os olhos, como o nascer preguiçoso do sol, nos longínquos confins d’África. Meia zonza dirigiu-me um olhar sedutor que não resisti, nossos lábios se cruzaram, rebolamos na areia tépida da praia, envoltos num beijar sem fim. O coaxar dos sapos nos trouxe à realidade, já era noite, abandonamos a praia à pressa em direção a choupana. No calor do nosso cubico, observávamos o luzir dos pirilampos através dos vidros embaciados da janela. Os relâmpagos cruzavam o céu carregado das nuvens prenhas de água, avizinhava-se uma tempestade, Fatinha, minha namorada, tinha muito medo, pois nunca pernoitara numa cabana.
Na manhã seguinte, quando o sol espreitava timidamente entre as folhagens dos embondeiros, ela se assomou à janela dirigindo-me um sorriso, dei-lhe um sinal, ela veio ter comigo e fomos correndo de braços dados para o jardim repleto de vida. No riacho que serpenteava entre persistentes raízes de lírios, cumpria-se o ritual acasalamento entre dois cisnes que se puseram numa frenética dança de tango. Embebido por esse cerimonial rito, senti o latejar do coração da minha amada, baixei a cabeça e beijamo-nos perdidamente, encobertos por bando de beija-flores que deixava no ar, cheiro aromático do néctar acabado de sugar.
Adelino Gomes-nhaca
Adelino Gomes