Não sei o que é ser idoso
Velho em anos
Mas conheço a casa
Sou inquilino
Conheço a rotina
A urgência da vida
Contra as delongas da morte
Ninguém culpe ninguém
Atire a pedra, e pense duas vezes
A moeda tem sempre dois lados
Mas são uma e uma só moeda
Não é fácil a solidão para quem já foi menino um dia
Já foi pai, já foi mãe
E todos eles morreram,
Até os que estão vivos!
E a dor é constante
Sussurrada
Os gemidos reprimidos
Para não indispor quem põe e dispõe
Sobre mim
É difícil ouvir que se ocupa uma cama
E que se vive já de tempo emprestado.
E as dores do espirito e do corpo agudizam-se
Porque se vive já a menos que meio corpo
E a dependência torna-se companheira
E o pior de tudo...
A sua consciência.
Um dia eu já tomei banho sozinho
Um dia eu já fui criança
Um dia já tive mãe e fui amado
Com todo o cuidado
Hoje sou criança nojenta
Que teima em respirar
Mas um dia eu vou dormir
Como todos os dias
E não vou acordar.
Esta...
A alegria maior que me habita
E me dá forças para me calar
Se depois for o nada e o esquecimento…
O “nada” é bom;
Não há dores nem alegrias
É a balança equilibrada
Se Deus estiver a minha espera
Então espero
Que tenha misericórdia
Mais do que a que tenho aqui para com os outros.
Acho que me tornei crente, no meu medo.
Há dias em que sei que não vou morrer
Há outros em que não tenho a certeza
Por ter medo
É normal ter medo
Penso eu na minha auto-indulgencia
E quisera eu descansar
Nesse aconchego da alma.
Mas eis que vem a Razão
Ferir estes pequenos estados de graça:
“Medo do inevitável?”
“Em quê que és diferente de todos?”
E mais uma vez que me humilho,
Face a mim próprio
Quem penso que eu sou?
Nem da minha vontade sou dono
O meu próprio corpo me traiu,
Mais do que os outros todos...
POR:
ANA C.
Esquece todos os poemas que fizeste. Que cada poema seja o número um.
*Mário Quintana*