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Pelas veredas da vida

 
Pelas veredas da vida

Olha-se no espelho. Não se reconhece. Ali está uma mulher bela, cativante, de semblante atraente, cabelos extensos, brilhantes com reflexos avermelhados emoldurando o rosto, caindo num dos ombros displicente. Afaga-os. Lentamente a mão percorre o seio e desce até à cintura. Num gesto firme e elegante faz um requebro num pequeno volteio a perna desnuda-se e a silhueta é deveras encantadora. O requinte do vestido é de estilista. Pequenas pérolas e vidrilhos desenham um bonito conjunto de flores cintilantes que dão encanto e sedução. As sandálias lindíssimas nuns pés delicados. A face é fresca, tem uma ténue pintura, um pouco de sombra nos olhos fascinantes, escuros e de pestanas longas. A boca é naturalmente vermelha, os lábios um tanto carnudos e as maçãs do rosto rosadas têm a dividi-las um narizito atrevido. Um pequeno sinal na testa dá-lhe graça e é prazeroso. Tudo parecia normal. Quem esperaria que lágrimas começassem a aparecer nesse rosto encantador e porque chora? Ser-nos ia difícil de compreender perante aquele quadro belo que constrói a nossa imaginação e a beleza desta postura aparentemente tão serena. Pois nem tudo que luz é ouro, lá diz o velho ditado. Está recordando a sua vida passada e reproduzida naquele espelho secular. O coração aperta-se…a vida da aldeia, dura, de grande sacrifício. No inverno então era insuportável. A casa pobre e desconfortável. Só os animais que quase paredes meias os aqueciam. Quando o tempo enregelava os corpos eles davam um certo calor mas o bafo era desagradável principalmente quando chovia e a lã das ovelhas ficava molhada. A lareira era acesa para cozinhar e ali ficávamos sentados nos bancos embrulhados e encostados uns aos outros para jantarmos pelas seis horas da tarde alumiados por velas ou um candeeiro quando havia dinheiro para comprar o petróleo. Mas a minha terra é linda! Na primavera gostava de levar os animais a pastar ou beber a água no bebedouro da fonte. Andar por aqueles campos fora correndo e saltando com os meus irmãos cantando canções que a nossa mãe ensinava. As lágrimas teimavam a aparecer. De súbito uma mão estendeu um lenço para as enxugar, um lenço perfumado de aroma costumeiro. Eduardo sorria docemente apertou- me contra o seu peito. Então estas recordações foram-se apagando, voltei á realidade. Passado um momento recompus-me dei-lhe o braço encostei a cabeça no seu ombro num gesto grato e carinhoso. Retomei a serenidade e assim apoiada entro no salão. O ambiente um pouco requintado é acolhedor, as luzes numa bela tonalidade. Julgo que todos se conhecem. Trocam-se cumprimentos, abraços e beijos afeiçoados. Dia festivo. Dois empregados da casa simpáticos e impecáveis servem os convidados. A música muito bem escolhida, melódica e quase em surdina serve de fundo a conversas interessantes e intelectualizadas. Há também risos e palavras menos prosaicas na gente mais nova de costumes mais aligeirados e livres, juventude! As horas passam em encantador convívio. Começam as despedidas com alguma confusão, desejos de um próximo serão, saem e fica um silêncio sentido. Damos as boas-noites habituais e subimos para os quartos. Sento-me no sofá, nuns minutos rezo e agradeço toda esta felicidade. Agora um bom banho relaxante, visto uma mini camisa e ao espelho olho a minha simplicidade. Embora pareça impossível foi a infelicidade de ter perdido os meus pais, que recordo sempre com a maior saudade e carinho. Mas foi assim. Esta família nobre, rica e boa desta terra acolheu-nos como filhos e eu a menina que eles não tiveram. Fui muito mimada, tive o privilegio de me instruir, educar e hoje ser uma arquitecta reconhecida que muito tem ajudado a resolver os problemas desta bela terra e recompensa-los com muitas alegrias. Adoro-os! Os meus irmãos hoje tomam conta destas terras e propriedades como se fossem suas, administrando-as e elas prosperam dia a dia. As lágrimas vêm novamente, sim, mas de alegria. Prodígio sobrenatural. Novamente tenho dois braços fortes, amigos feiticeiros que me abraçam. Numa reviravolta não há mais miragens mas um homem viril e apaixonado que me levanta nos seus braços me beija e leva em êxtase para uma noite de amor e felicidade. O filho que eles realmente tiveram.
Helena


 
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Volena
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/02/2015 20:51  Atualizado: 23/02/2015 20:51
 Re: Pelas veredas da vida
UAUU FIQUEI ATE SEM PALAVRAS AMIGA VOLENA

LINDO ♥♥


Enviado por Tópico
Jmattos
Publicado: 23/02/2015 21:10  Atualizado: 23/02/2015 21:10
Usuário desde: 03/09/2012
Localidade:
Mensagens: 18165
 Re: Pelas veredas da vida
Parabéns Volena
Lindo! Final abrasador! Beijos!
Janna


Enviado por Tópico
Semente
Publicado: 23/02/2015 22:33  Atualizado: 23/02/2015 22:33
Membro de honra
Usuário desde: 29/08/2009
Localidade: Ribeirão Preto SP Brasil
Mensagens: 8560
 Re: Pelas veredas da vida
Uma história que emociona, Vólena, e me faz pernsar que quem vê cara não enxerga o coração. Ainda bem, que entre lágrimas e dor, surge o que de fato fica de bom, o amor.

Parabéns, pelo talento com a escrita , amiga querida. Tem o meu carinho e admiração.

Beijinhos carinhosos!


Enviado por Tópico
Vania Lopez
Publicado: 24/02/2015 04:00  Atualizado: 24/02/2015 04:00
Membro de honra
Usuário desde: 25/01/2009
Localidade: Pouso Alegre - MG
Mensagens: 18598
 Re: Pelas veredas da vida
arquitetas o amor em toda palavra, seja prosa
ou palavra corrida. és um encanto. beijo daqui


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 24/02/2015 12:32  Atualizado: 24/02/2015 12:32
 Re: Pelas veredas da vida
Vó gosto de vc mais que pudim de leite, vi no seu texto uma história de vida, tu não e fraca não Parabéns

gd Abraço


Enviado por Tópico
MarySSantos
Publicado: 24/02/2015 12:49  Atualizado: 24/02/2015 12:49
Usuário desde: 06/06/2012
Localidade: Macapá/Amapá - Brasil
Mensagens: 5848
 Re: Pelas veredas da vida
Já havia saído quando li seu emocionante relato, Helena e entrei para comentar. O teu riso de felicidade hoje, é recompensa por teres suportado com louvor teu tempo triste e
teres recebido com graça e humildade, a nova história. Isso tudo fez a diferença para que sejas a pessoa maravilhosa que és.

Um lindo texto, Helena. Emocionou-me, obrigada!

beijos


Enviado por Tópico
GELComposicoes
Publicado: 24/02/2015 16:23  Atualizado: 24/02/2015 16:23
Membro de honra
Usuário desde: 04/02/2013
Localidade: Uberlândia - MG - Brasil
Mensagens: 2314
 Re: Pelas veredas da vida
Que bela história!
E muito bem contada!
Parabéns!
Abração.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 25/02/2015 19:21  Atualizado: 25/02/2015 19:21
 Re: Pelas veredas da vida
Vó, então permita-me mimá-la só mais um pouquinho, quem sabe oferecer um colo...é muito bom ver você sorrindo!!! Você é realmente uma estrela com um brilho a mais...beijoooooooo....Obrigado por nos iluminar.


Enviado por Tópico
Ro_
Publicado: 26/02/2015 11:42  Atualizado: 26/02/2015 11:42
Membro de honra
Usuário desde: 25/09/2009
Localidade: Brasil
Mensagens: 3985
 Re: Pelas veredas da vida
Especialmente lindo e encantador!!!
Mil beijinhos vó, te adoro!

*-*


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 28/02/2015 15:35  Atualizado: 28/02/2015 15:35
 Re: Pelas veredas da vida
Meus parabéns pela grande escrita!


Enviado por Tópico
Migueljaco
Publicado: 01/03/2015 12:25  Atualizado: 01/03/2015 12:25
Colaborador
Usuário desde: 23/06/2011
Localidade: Taubaté SP
Mensagens: 10200
 Re: Pelas veredas da vida
Bom dia Helena, a vida é uma rua com diversas esquinas, e em cada uma delas a sua particularidade, e os teus versos pontuam estas nuances sazonais com muito primor, parabéns pelo envolvente enredo poético retratando a trajetória de vida de muitos de nós mundo afora, um abraço, MJ.


Enviado por Tópico
Eureka
Publicado: 01/03/2015 13:10  Atualizado: 01/03/2015 13:10
Membro de honra
Usuário desde: 01/10/2011
Localidade: Lisboa
Mensagens: 4297
 Re: Pelas veredas da vida
Olá Vólena

Um conto a amiga deixou aqui, partilhando uma história de vida, que podia ser a de qualquer uma, que se assemelhase à Vólena, para a conseguir escrever assim.
Li com atenção todo o texto, de seguida li os comentários e compreendi tratar-se de pura ficção - Mas que parecia estar escrevendo a sua história, parecia. Bom demais.

Meus parabéns, uma história de vida assim tão completa em detalhes que me emocionou, muito bem escrita que me levou àvidamente do principio ao fim, numa gulodice em ler tudo até ao final.
Beijinhos mil Vólena

Eureka


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 04/03/2015 11:47  Atualizado: 04/03/2015 11:47
 Re: Pelas veredas da vida
Uma verdaidera lição de vida que nos comovem intesamente, instantes reflete os verdaidero momentos de uma vida