Transcendência é nada
Num universo infinito e casual
Só um conjunto de pontes e portas
As quais cruzamos, e que somem às nossas costas
E no final não havia nada mais,
Somente pontes e portas
Reinvenção é continência
Cautela para que não terminemos por esfolar
Ou explodir estes milagres ambulantes
Da carne de que somos feitos
Passos, bocas, gritos, granadas, miolos
Todas as vozes e voz alguma
A todo instante, em lugar algum
Amor é a mais avulsa das palavras
É adrenalina, noradrenalina
Feniletilamina, oxitocina,
É serotonina e ilusão
É alcançar a mão pequena dum bebê
São lágrimas derramadas
pelas esquinas da história
Eu, também, quero ser éter
Mas tudo o que posso ser é fumaça
Sou o que deixo de mim transparecer
Pelo suor, pelo sangue que pouco sangra
Pelo que digo e me deixo escrever
Sou só o que lembro e o que consigo
alcançar com os olhos e com as mãos
A Terra é o palco da minha tardia aventura
O assovio dos ventos e o canto dos pássaros
são minha trilha sonora
Às vezes penso despertar Gaia com acordes
Mas ela apenas espia através de pálpebras semicerradas
Me lança um tênue sorriso de chufa
E regressa sem palavra ao seu sono de beleza
que já dura eras e eras.