RESPOSTA A RECLAMAÇÃO DE CONDOMÍNIO
Vou contar-vos como me sinto: Como há 11 ou 15 anos, grávida em fim de tempo.
O que não quer dizer que esteja tão “cheia de curvas” – a expressão que mais levemente mortifica uma mulher gordinha ou gordíssima de grávida - como o peso das responsabilidades que trago às costas. Pese embora não fugir à realidade, a avaliar pela vizinha do 3º Dto que já reclamou mais do que uma vez o peso que os meus passos à noite exercem no sono dela, que traga o meu peso em ouro, em cada uma das pontas de pés com que percorro os meus pensamentos e inspirações nocturnas.
Igualmente nos chegou (à família Correia de Bocage) reclamação apontando constância no atirar de papéis pelas escadas do mais petiz, e das “coriscas” no terraço que a primogénita terá deixado escapar pela varanda, e que apelidam como actos de vandalismo.
Aqui envio uma simpática e sentida resposta às reclamações: a todo o condomínio e condóminos refiro que, lamento profundamente o facto de ainda não estar a ser capaz de andar nas nuvens, embora muito me aprouvesse, mas já que: se há coisa que a Dra. [nome próprio da senhora do 3º dto, que lamentavelmente me escapou da memória] não pode reclamar é que o meu caminhar em pantufas às 2h00 ou 3h00 da manhã, tenha sido precedido por um ranger de molas ou bater de cabeceira de cama acelerados; não consigo ir a cozinha molhar a palavra que me chega em molhos a essa hora, em levitação.
Partilho ainda com todos, os proprietários com assento e acento no condomínio, o que já aprendi na minha curta - a avaliar pelas grandes coisas que ainda conto fazer nela - vida: é que apesar de mais curta que a da referida senhora e talvez quem sabe, que a dos ditos senhores da constância e do vandalismo, ela já me ensinou que a aptidão para nos adaptarmos ao que nos atinge, está em nós todos, fazer o uso correto dela é que não é para todos. Então passo a referir-vos que também eu quando me mudei há relativamente pouco tempo, para este apartamento que estava vazio há mais de 5 anos, me tive que adaptar à falta de céu azul e verde esfuziante e á limitação de horizonte que a Torre em frente me coloca ao acordar, e para isso transformei, os poucos mais de 100 metros quadrados de espaço que devia ser verde, mas que a ausência de carinho já tornou amarelo, e a que o construtor se terá referido, como equipamento urbano, que me separa da castradora Torre, no meu Micro Central Park. E um dia ainda vos escrevo sobre o que este emblemático espaço me inspira!…
RESPOSTA A RECLAMAÇÃO DE CONDOMÍNIO (continuação)
Assim, porque acho que os bons conselhos bem dados deviam ter uma cotação de mercado associada, ofereço este que poderá possuir um valor inestimável para o sono da senhora, que acredito, já tenha sido guerreira, e agora se encontra reformada e talvez também noutra situação de fragilidade, que eventualmente rima com esta. Introduza por favor o som dos meus passos nos seus sonhos, tente desenvolver a capacidade de os fazer acompanhar a chegada dos filhos afastados e sempre desejados ou, o passeio com o marido amado que no seu coração permanece, e com isso desenvolverá também aptidões de tolerância, tão necessárias nos nossos tempos e na vida comunitária.
Um destes dias porém percebi que o seu incómodo afinal se prendia também com os entusiasmos do Caetano Veloso, Tom Jobim, Vinicius de Morais, Adriana Calcanhoto, Maria Bethania e outros em alguns dos seus sons mais elevados, porque quando isso acontece, actualmente sucedem-se umas pancadinhas que calculo não sejam de Moliére, já que serão para me levar a fechar as cortinas à cena e não a abrir e presumo, são dadas no tecto e não no chão, mas produzem igualmente o efeito de silêncio sobre a minha ausência mental. Não se ofendendo com as minhas palavras que lhe endereço com o devido respeito, sugiro igualmente à senhora que dorme por baixo do meu dormitório onde quase não se dorme ultimamente, que me solicite o telefone e poderá dar um toque quando eu me esqueça, apesar do esforço que, acreditem ou não, tenho feito, que Bossa Nova e Samba a despertam do sono assomado pelos passos de há pouco, e poderá evitar danos maiores na estrutura do prédio com as pancadinhas que nele despeja de madrugada.
Relativamente então aos senhores da constância e do vandalismo: também lhes dou abnegadamente um conselho, quando falarem de constância certifiquem-se de que falamos de acto persistente e permanente, ou seja em 10 vezes que o tenham visto, um mínimo de 8 deveriam ter sido na dita acção de despejo, e quando se referirem a actos de vandalismo reflictam no sentimento que os inocentes animais devem nutrir por vós depois das cenas a que já aqui assisti e por isso não apelidem os menores que atuam em reacção e sem má intenção, de vândalos, que os seus referidos actos em nada se comparam ao vosso de completo desprezo pela vida animal.
Agradeço a quem me leu e percebeu, bem hajam!...