Fortes ventos.
A noite parece funesta,
Vejo micro-organismos em festa
Tripudiando sobre meu catre.
Escuto bisonha gargalhada,
São fantasmas que anunciam
O verdor macrobiótico
Da indulgente madrugada...
Fecho os olhos.
Assisto à escuridão que treme
Perante o assobio da mortalha
Que rasga no espaço, as estrelas...
Meu pensamento é diáfano,
Verto medo na solidão...
Murmúrios macabros
Invadem a consciência aflita...
Levito o olhar sobre o teto,
Vultos apócrifos desconexos
Dançam músicas fúnebres
Sobre uma lápide imaginária...
Tento gritar... Esforço-me,
Mas o grito fenece na garganta,
E um pavor atônito se agiganta
Deixando-me tétrico e ressabiado...
Cutuco-me. Estou vivo e aceso,
Taquicardia inunda o quarto obeso,
Consigo soletrar nomes avulsos,
E cogitar preces num só impulso.
Sinto-me invadido pela depressão
De um estuário de faces febris
Que singram orvalhos pueris
Do amálgama que é o coração...
Finalmente a noite se abre e
O dia raia sobre nuvens burlescas...
Trago flores bastante frescas
Do pesadelo que foi conclave...
No sol percebo a magia do viver,
O calor que arrebenta a nostalgia
Da noite consumida pela fantasia
De sonhos castrados ao amanhecer!