Não sei se posso decidir
Se me encontro afundado
Ou mesmo afundado demais
Jamais, na superfície
Onde o mar faz ondas cristalinas
E, à noite, em meio à escuridão,
Brilham, as noites singelas das cidades
[Longe dos aglomerados e centros urbanos]
O foco se perde no horizonte
A fumaça da cana-de-açúcar queimada
O bagaço que vira energia,
Minha vida encaminhando-se a todos os lugares
E a lugar nenhum, tudo numa só rota
Pneus deslizando sutilmente através do asfalto
Desviando-se dos sulcos e dos cães perdidos
Eu, acompanhado por acordes de violão,
O sofrimento quase nunca chega para aquém
Dos fones de ouvido
Quase sempre vou encontrar o que resta
Os nobres escombros do meu sangue
Desviando olhares ainda, quase insegurança
Mas valem por uns abraços que atingem
Que nem pedra preciosa gravada
Valem por umas conversas tão "por acaso"
Que chegam a aquecer o coração
Fazem-me quase esquecer a solidão
A solidão duma vida inteira,
Assim, em exatidão, como o dito do poeta
E quem diz que não é sozinho é rei ou mentiroso
Quem diz que quando o menino vira rapaz
E a menina, moça
Ainda tem mãos em que se segurar, quando se cai
E o terno e eterno colo de mãe pra voltar
-> Não tem! <-
O que tem é o que a gente leva
Nessas viagens quase singelas
Uma mochila nas costas, uma mala de mão
E o arrebatamento pela incerteza
O vento, que vez acaricia, vez queima a cara
O sol se pondo, quando se escolhe o horário ideal
De viajar
A gente vai ao nosso próprio encontro
Seja na estrada ou não meditação
A gente erra gastando tudo, quando tudo do que precisamos
Vem e nos acomete, quando sonhamos
A gente termina esquecendo o principal
Eu sei que sou dela e que ela me chama
A natureza, os mares, as cadeias de montanhas
E eu sei que vou correndo, sempre que puder
Sei que enfrento frio e sede, sem almoço nem café
Sei que é de natureza que meu coração sofre de saudade
Da beleza do existir puro; o toque divino do orvalho
Mas é de uma pilha de gente, também; uns personagens
Umas imagens romantizadas que a gente guarda no peito pra se aquecer
Mesmo que a última das intenções desses alguéns
Seja a de olhar-nos de soslaio e nos reconhecer
Porque - nem se iludam - não reconhecerão
Somos, afinal, só um bando de moleque chorão
Porque a linha da pipa quebrou e o artefato foi-se embora
Não adianta correr, o vento já levou-a, sóbria
A gente só não sabe mesmo como termina a história
Que, depois de tanto dar-nos maçada,
Ainda meio que nos dá as costas
Porque, além de solitários, temos que ser videntes,
Na certa!