Um dia serei perfeita.
Um dia, sem urgência
nem metamorfose visível,
pousarei na minha flor prometida
e abrirei as asas diligentes
num gesto de magnanimidade
por toda a minha anterior negligência
e inaptidão.
Um dia serei, finalmente, perfeita,
porque dentro de mim existe muito mais
do que sou agora, larva em estado
de inépcia,
mole informe em enfado
de inércia
existencial.
Porque dentro de mim existo apenas
para esperar a flor
essencial
e
tenho tempo, tenho tempo,
deixem-me primeiro perdoar
os dias que me corroeram
a vontade
e os milagres que me conduziram
à verdade
de nada ser.
Depois,
naquele dia perfeito em que serei perfeita,
os incrédulos dirão
que eu fui apenas um acaso derivante,
e os desprevenidos,
que os meus sonhos me inocentaram
e que as minhas mãos
finalmente se desataram
para gravar no meu próprio peito
a marca da imortalidade.
Um dia,
serei indivisível da minha flor prometida.
Um dia - que ainda é cedo, que ainda é Vida...
Teresa Teixeira