Caem-me como luvas indesejadas
O pecaminoso pelo qual me repreendo
A beleza e a sutileza que muito pouco sustento
O chão sob pés, que cansam mais todos os dias
Enquanto perco horas a me questionar
Se a mente fantasia mesmo pra preencher
Doces e discretos lapsos temporais
Se se realmente se toca o rosto de Deus
Quando se ouve à nona de Beethoven
Se vou um dia aprender a deixar passar
A viver de presente mais do que de passado
A desmascarar o futuro pela farsa que é
A viver mais em minha própria vida do que nos versos
A repreender impulsos obscuros e mal cuidados
Já não me assusta o novo, nem me ilude
Já não passa do recém advindo vislumbre do próprio agora
Ilustre e augusto, como uma serpente
Que se contorce através do seu caminho
Em busca das fundações últimas do Universo
[E eis que termina por engolir-se a si mesma].