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Juromenha Parte 2

 
Juromenha Parte 2
 
Olhei para trás para ver quem me tinha abordado; Era um rapaz novo, talvez pela minha idade; Bem mais alto do que eu, esguio e bem constituído. O seu cabelo era muito curto e louro escuro. E por detrás da sua barba mal feita, o seu sorriso era doce, parecia tão verdadeiro que foi a primeira coisa que me saltou à vista no instante que olhei para ele. Mas mais belo ainda, era o sorriso, que passava para o seu olhar meigo e terno.
Os seus olhos eram verdes, mas não era um verde normal, fazia-me lembrar o mar de uma daquelas ilhas paradisíacas. Eram bastante fora do comum.
Envergava uma camisola de algodão simples, branca e de meia manga . Tinha um fio ao pescoço, atado com um cordão preto, e gravado num género de ferro derretido, parecia estar uma árvore. Percebi que não era uma árvore normal, mas não conseguia ver em detalhe o que era, estava demasiado longe. No entanto, tinha a sensação que já tinha visto tanto aquele símbolo,e também, aquele olhar. Esforcei-me ao máximo para que esse facto passasse completamente despercebido.
Vestia umas calças castanho escuras e à volta da cintura, tinha um cinto onde tinha presas algumas ferramentas. Nas suas mãos, que pareciam sujas devido ao seu trabalho, trazia uma espada que brilhava como se tivesse sido acabada de ser feita. Olhava para mim com um desdém divertido e curioso. Sorri, e naquele momento, o sorriso dele, iluminou toda aquele lugar de luz. Havia muito tempo que não o via.
- Sim, talvez, não… Não preciso de nada, obrigada. Estou apenas a... ver. – disse tentando parecer muito interessada nas espadas que estavam à nossa volta.
- Estou um pouco surpreso de a ver aqui. –admitiu.
- Surpreso? Mas… Porquê?
- Não sei. – disse passando a mão pela cabeça. – Não me parece ser o tipo de rapariga que se interesse pelo tipo de coisas que tenho aqui na loja. – disse olhando-me de alto a baixo.
Aquela constatação irritou-me um bocadinho para ser honesta. E oh se ele estava muito enganado sobre a minha pessoa.
Desde sempre que tive um enorme fascínio não só pelos tempos medievais, como também por todo o género de armas e armaduras inerentes àquele tempo. Adorava olhar para as espadas poder aprender como manuseá-las, e quando imaginava que parte de mim de alguma forma pertencia àqueles tempos, sempre me vi como sendo uma das rebeldes que se aventurava em direcção ao desconhecido e que não tinha medo de uma luta. Olhei para ele, e agarrei numa das espadas que estava em cima de uma das mesas:
- Cuidado... – disse.me preocupado quando a tirei do sitio. Talvez estivesse com medo que a deixasse cair no chão. O que não ia acontecer, e eu... bem, eu de alguma forma, sabia isso.
Olhei-o nos olhos, e sorri aproximando-me um pouco mais em tom de desafio.
- Pois bem. – disse a rir como se estivesse a fazer troça de mim. – largou a espada que tinha na mão e foi buscar outra, fazendo-a rodar na sua mão.
Aproximou-se mais também, mas, durante algum tempo, percebi que me estava a testar andávamos à roda da sala a olhar um para o outro à espera do primeiro ataque.
Por algum motivo, estava confiante que ele pensava que eu estava a brincar, ou que ia desistir da ideia. E isso, deu-me tempo de avançar sem pensar duas vezes, surpreendendo-o. Quando voltou para o contra-ataque, percebeu que não o ia deixar ganhar assim tão facilmente, porque logo de seguida ripostei e ele sorriu enquanto eu o tentava desviar o seu ataque para o lado oposto de onde me encontrava :
- Já percebi que me enganei. – afirmou enquanto dava um passo atrás.
- Pois parece que sim. – concordei surpreendida comigo mesma, mas ao mesmo tempo, tentava parecer que estava muito segura de mim mesma.
- Estás de visita ao castelo ou moras cá? Tenho a sensação que já te tinha visto antes.
- Pelo menos não sou a única. – disse entre dentes. – Não, não sou daqui, estou de passagem. – pousei a espada de novo na mesa.
- Não vale a pena, vou ter que trabalhar nela novamente. – disse agarrando-me na mão.
Olhei para ele, e assenti dando-lhe a espada para a mão.
Costuma dizer-se que o olhar é o espelho da alma, ao olhar para os seus olhos via um mundo de emoções, de histórias para contar, um mundo que... sabia que em outro lugar já tinha conhecido. E talvez, esta fosse a prova que não estava tão errada quanto pensava.

Continua

 
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MelissaOwenAlways
 
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Enviado por Tópico
Migueljaco
Publicado: 12/02/2015 22:13  Atualizado: 12/02/2015 22:13
Colaborador
Usuário desde: 23/06/2011
Localidade: Taubaté SP
Mensagens: 10200
 Re: Juromenha Parte 2
Boa tarde Melissa, o seu enredo detém densidade, e intensidade, estes fatos resvalando entre o real e os contos de fada, são geralmente ricos em persuasão ao leitor, parabéns pelo contagiante texto, um abraço, MJ.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 12/02/2015 22:56  Atualizado: 12/02/2015 22:56
 Re: Juromenha Parte 2
Cativa os olhos do leitor.
A mente mergulha em teu universo buscando a fonte

Parabéns!


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 12/02/2015 23:09  Atualizado: 12/02/2015 23:09
 Re: Juromenha Parte 2
sim, sim, sim

Obrigada eu :)))

bjs e bjs Sorridentes com muitos


sim, sim, sim


Enviado por Tópico
MelissaOwenAlways
Publicado: 13/02/2015 00:37  Atualizado: 13/02/2015 00:37
Usuário desde: 28/11/2014
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Mensagens: 309
 Re: Juromenha Parte 2

Enviado por Tópico
Semente
Publicado: 13/02/2015 02:15  Atualizado: 13/02/2015 02:15
Membro de honra
Usuário desde: 29/08/2009
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 Re: Juromenha Parte 2
Ahhh, bem que eu sabia! rsrsr

Estou gostando muito da história. Você tem um jeito especial de escrever que me prende a atenção, por vezes tão desfocada....rsrsr...Parabéns amiga Melissa!

Bjoss


Enviado por Tópico
MarinaNegre
Publicado: 13/02/2015 11:45  Atualizado: 13/02/2015 11:45
Super Participativo
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Localidade:
Mensagens: 185
 Re: Juromenha Parte 2
Enredo muito envolvente, Melissa. O leitor tem a sensação de que está dentro da história... continua, estou ansiosa pelo próximo capítulo. Parabéns e abraços.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 13/02/2015 15:31  Atualizado: 13/02/2015 15:31
 Re: Juromenha Parte 2
Sonhos que se faz em metáforas que se completa com o mais das maravilhas, a sabedoria que se evanesce em seu ser