No antigo casarão, cada passo retrocedia o tempo.
O ranger das taboas pisadas, do velho chão de madeira, despertava um doce medo, já há muito sem sentido. Foi bom perceber que, mesmo longe da infância, ainda havia sobrado um pouquinho dele! E os olhos vasculhavam as sombras na esperanças dos fantasmas.
As paredes desbotadas, descascadas, surradas pelos anos, mas com suas cores alegres, tão fora de moda, pareciam festejar minha presença... ou talvez a luz do Sol que abundante tudo banhava, onde só pingava aos pouquinhos pelas frestas das janelas sempre fechadas, escancaradas agora.
Dos objetos inusitados espalhados pela casa, numa velha cristaleira, taças imponentes pareciam prontas aguardando um brinde. E os castiçais sobre a enorme mesa, quem sabe?! Talvez ainda esperando reacender, num jantar a dois, alguma paixão, em parceria com os tangos do vinil na vitrola. Dois abajures nas mesas de canto da sala... Ah, se pudessem contar das noites de festas ali entre amigos!
Da sala para a varanda que circundava quase que toda a casa, tão propícia para as tardes de preguiça, já não dava nem para imaginar a beleza do imponente jardim que antes dali se avistava. Hoje tão vazio de flores, dominado pelo mato. No centro o chafariz, bebedouro dos pardais, sem água já não servia aos pássaros. Não havia mais os beija-flores, nem as borboletas que enfeitavam ainda mais o que já era tão belo.
Voltei meus olhos para dentro, percorri cada cômodo... Em tudo havia um momento, assim qualquer do meu passado, esquecido pelos cantos...
No antigo casarão, as paredes surdas não ouviu o tempo lá fora e fechou o passado lá dento para não esquecer as antigas histórias... Que agora aos meus olhos gritavam!
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Mas, de repente,
num momento qualquer,
com os olhos se abrindo,
vi as paredes caindo
bem à minha frente...
Era só na minha mente
que elas ainda estavam de pé!
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