ARQUITETURAL
Enquanto os dias correm para o nada
Ou para outro mistério que se oculta,
Arquiteto, embora a mente estulta,
Obras à catedral inacabada...
Desde saída, tive a estrela errada.
A poesia, porém, minh’alma indulta
De quanto essa má língua ainda insulta
A amigos e transeuntes pela estrada.
Sobre alicerces alheios edifico
Ciente que me faria muito rico
Se servisse aos senhores d’essa terra.
Sem embargo, consigo obter uns cobres
Por recobrir o teto dos mais pobres
Co’os sonhos e esperanças de quem erra.
Betim - 07 02 2015
Ubi caritas est vera
Deus ibi est.
Talvez muitos não percebam ou não aprovem, mas o tema central desse soneto é refletir de forma bem humorada sobre a função social da arquitetura, isto é, para que e para quem o oficio de arquitetar edificações serve.
Reconheço que talvez não seja um tema poético comum. Eu tentei contrapor no texto várias visões pessoais do fazer arquitetura, ora no projeto utópico de catedrais; ora no duro debate crítico em torno dos conceitos e decisões arquitetônicos. E, por fim, reconhecer a possibilidade de revestir o habitat humano, sobretudo dos mais pobres, de alegria errante. É isso.