Fui um pouco de ser em cada coisa
Que a vida usou para aspirar
O instante que de mim brotava
Cinzelado e duro naquele momento
Porém eu crente acreditava
Ser ele tão fluido e puro como o mar
Entabulei conversas aos serões
Escuras sombras se atravessaram no clarão
Das ideias novas que se achavam inéditas
O calor da lareira amortecia a turbulência
E fogo crepitando com clemência
Obrava pela minha doce companhia
Mas um projeto novo sobrepunha-se
Arrancava o casaco ao cabide e saía
Pela noite ainda noite e tão fria
Encontrava o quarto jazente e inóspito
Ali afastado como um cão moribundo
E eu com o pelo eriçado das ideias
Queimava o frio mas não dormia
Seria amanhã que te iria falar de mim
Dizer-te o quanto era mais fácil te olhar
Do que tremer à ideia de te aborrecer
Porém de manhã aproximei-me do teu dia
E reguei a semente que meu corpo trazia
Amo-te eu disse e só depois pensei
Atiraste-me com um olhar desconhecido
Rígido, frio, estrangeiro…
E sobre mim lançaste um adeus sincero
Como o mar que ali perto me desenganava
“A vida é uma curta dança com o sal”