Numa tarde primaveril, duas amigas encontraram-se numa esplanada repleta de vida juvenil, sentaram-se à sombra da mulemba e distraídas com o esplendor da juventude, puseram-se à discutir sobre os efeitos do novo acordo ortográfico:
-ouvi falar do novo acordo ortográfico. - Insinua a Rita
-e o que tem isso a ver com a gente? Estamos curtindo…
-claro que tem. Repara nos casais após o novo acordo. – insiste
-lá vens tu com as tuas! Que relação existe entre ambos?
-ah! Não sabes?
-obviamente que não. Mas diga-me qual é.
-com novo acordo houve mais divórcios.
-divórcios? Mas, estás bem de cabeça. – teima a Júlia
-claro que estou bem. A lua-de-mel já não é o que era.
-Estás enganada. O divórcio é provocado pelos casais imaturos.
-quais casais imaturos! Desde que tiraram união a lua de mel, o casamento passou para o quinto plano. Não esqueça que a “união faz a força”.
-se este for o caso, então deviam desunir o bem-estar das famílias porque não estão bem nesta era da troica.
-e como não bastasse, encorajam jovens a não amar. – acrescenta a Rita
-a não amar! Como assim? Ainda namoras com o João.
-o nosso amor está de tanga.
-não pode ser! Ontem vi-te a enamorá-lo no jardim “couve-flor”.
-isto foi só a fingir. Desfragmentaram também o símbolo que nos unia. – diz a Rita
-a flor que o João usa nas suas serenatas? – quis saber a Júlia
-não é bem a flor, mas a sua cor-de-rosa impiedosamente desmembrada.
Num canto da concorrida esplanada, estava um senhor que ouvira a discussão das duas jovens, dirigiu-se à mesa e diz:
-filha, vai para Roma
-porquê Roma? – inquere a Rita
-lá preservará o vosso amor e a língua que a nossa Pátria levou além-mar.
-o senhor não se importa dizer-nos quais são as vantagens deste novo acordo? – teimosamente pergunta a Júlia
-filha, nem eu nem os que o assinaram, sabem dizer quais são as vantagens e desvantagens. – responde o senhor afastando.
As meninas ficaram perplexas, trocaram-se de sorrisos e foram para casa cheias de dúvidas anda por esclarecer.
Adelino Gomes-nhaca
Adelino Gomes