Porque me bates
dia a dia
imparável coração
fitando-me extemporaneamente
quando afinal a morte
por agora ainda não acontece?
Porque deambulas
tímido e éticamente
propenso às banalidades
das palavras nunca ditas?
Porque enfartas minha dor
e me deixas em coma
tecendo a vida débil e incipiente
no templo onde inequivocamente
nos enamoramos indissoluvelmente?
Porque me tramas
e ousas
intrepidamente
calar-me a dor
onde fui legitimamente
beber teus gestos de paz
ou seguir meus atos de misericórdia
numa tarde amena
dispersa nas estrofes do poeta
ou fingidor?
Porque me cativas
hoje
se amanhã partirás
deixando meu corpo
postumamente lembrado
entre lençóis vazios
e amarrotados onde resguardámos
todos os enigmas
todos as preces
abraçadas ao nosso ser
que em tudo em nós se oferece
num dizer…amo-te porque me apetece
e jamais estou certo
nenhum de nós se esquece…
FC