PRISIONEIRO DO SURREALISMO
Já não basta estarmos detidos em dédalos de artificialidade,
Que emergem continuamente do dia-a-dia,
Tenho ainda de ser perseguido por criaturas imateriais
Qual num recente outrora
Formavam benquistos e táteis átomos concretos reais.
Já não basta seguir neurótica e antifilosoficamente as regras
Desta sociedade verticalmente vampírica
E alheia aos inefáveis danos que provaca cada mordida,
Cada interstício que se descerra,
Cada chaga que, por si, não cicatriza,
Sou compelido a mergulhar, dentro da atmosfera dos crepúsculos,
Em companhia de reminiscências
Tão pungentes: pungentes porque sei que não se recorporificam
E retornam ao molde do vivo cotidiano novamente,
Porquanto seja o nosso virtual cotidiano dantesco, horrível,
Díspar, adorador de quimeras mortíferas.
Não, a bem da verdade,
É que a matéria, de ontem,
Solidificada, se comutara em água.
Não satisfeita com sua gesta
Entrara em ebulição e se fez fumaça á qual, aos poucos, foi se Afeiçoando ao frio, foi se tornando gélida; e, então, acabando por
Subjugar o céu afogado em mar de azul anil.
Não se contentando ainda em se gaseificar, quis soçobrar
Seus átomos, chegando ao estado da imaterialidade.
No entanto, mais uma vez não satisfeita, sob o manto da
Inatingibilidade dos denotativos sonhos, começou a povoar
O corpo idealístico dos meus anseios fadados sempre ao Desengano da natureza decepcionante residente no antagonismo
Do que gravita na órbita do que se sonha em realizar e daquilo que, de fato, se realiza.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA