Não há de vir simplesmente por vir,
Nem há de aquietar-se brandamente em teu peito.
Há de romper como rompe a força das águas;
Há de esgueirar-se pelos meandros de tua alma
E inundar toda tua composição humana.
E quando vier, virá como uma tromba
Arrastando a todo sentimento mesquinho,
Todo o fingir de ti mesmo,
Todo o acomodar-te risonho.
E virá turbulento, derrubando tudo,
Arrancando a cerca dos caminhos,
Quebrando as porteiras dos medos e dos desenganos,
Fazendo charco da tua mentirosa certeza.
E aí tu terás somente o teu segredo,
Apenas uma única verdade retumbando em teu seio,
Sentirás o peso das tuas omissões,
A frustração consumindo-te o espírito.
E mesmo trazendo a bonança uma linda tarde,
Indesejavelmente,
Já não haverá mais tempo.
Frederico Salvo