Na face que vejo no espelho
a vida passa lenta.
As rugas que sinalizam todos os passados
já não lamentam os futuros que não chegaram.
Os brancos os fios da barba,
que se repete diariamente,
nada almejam e de nada recordam.
São brancos lapsos da branca memória.
Hiatos resignados de olhos que tudo viram,
de ouvidos que tudo ouviram
e de lábios que nem tudo disseram.
Mas, agora, nada mais se deve dizer.
É tempo de calar-se, o silêncio compensa
o choro e o riso que foram indevidos.
Lenta, a vida passa.
E a cada manhã.
o espelho fica mais embaçado.
Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, Verão de 2015.