GERAÇÕES
PARTE II
CAPÍTULO VI
Como o tempo é senhor da vida do homem, logo estavam os alemães retornando à Europa após quarenta dias de curtição em solo brasileiro. Sigmund e Demetrius choraram abraçados no aeroporto e isto provocou comentários entre seus familiares.
- Nossa, Sofia, como eles se gostam! – Comentou Carla.
- Pois é, tornaram-se verdadeiros amigos e agora se despedem. Vão sentir muito a falta um do outro. – Disse Sofia.
Demetrius adoeceu com a partida de Sigmund, contudo, semanas depois estava recuperado e de retorno às costumeiras atividades.
Os americanos voltaram a insistir, mas sempre ouviam “não” às suas pretensões.
Demetrius completava 20 anos e concluía o curso de Administração. Seu pai, Fernando Azim, havia falecido há dois anos e Sofia apenas esperou que o filho completasse os estudos a fim de introduzi-lo nos negócios da Fundação, nomeando-o Vice-Presidente. Demetrius conheceu uma
linda moça, que se candidatava a ser estagiária na Fundação. Ficou deveras impressionado com sua beleza e surgiu um namoro entre eles. Fábia era descendente de ingleses e de uma beleza indescritível. Os dois estavam apaixonados e se casaram dois anos depois. Viajaram pelo mundo em lua de mel e, na Alemanha, Demetrius reencontrou Sigmund, na atualidade um advogado de muita competência e bastante sério. Também se casara e já era pai de uma menina de um ano e meio. Conversaram pouco e não tocaram no assunto que os envolveu na adolescência, agora morto e sem perspectivas de futuro.
Voltaram da lua de mel. Demetrius retornou com uma ideia fixa na cabeça: iria dedicar-se, também, à politica. Esta decisão não achou ressonância em Sofia, que temeu pelo futuro do filho.
- Não acho uma boa... Somos pressionados por todos os lados pelos americanos a fim de vendermos nosso patrimônio e, lendo documentos antigos de nossos antepassados, a política trouxe uma grande tragédia à nossa família. Ìgor Antunes, que foi político de renome e candidato à
Presidência da República, foi assassinado traiçoeiramente por questões ligadas a tudo isso e,até hoje, sua morte nunca foi esclarecida, nem será... Você quer ter o mesmo fim, meu filho?
- Indagou Sofia, preocupada.
- Mãe, para cada momento, uma história. Tenho meus projetos, lógico, mas não os escancararei como fez o “bestão” do Ígor, com todo o respeito que ele possa nos merecer. Minha plataforma de Governo só será conhecida depois que eu tomar posse e estiver governando, aí o povo e o mundo saberão quais são meus projetos para o país. – Frisou Demetrius.
- Como você é bobo e inexperiente, Demetrius. Não observa que hoje as investidas deles sobre nós são muito mais frequentes de que naquela época? Pense e repense e veja que estou com a razão. – Finalizou Sofia.
Demetrius levou a sério todas as considerações colocadas por sua mãe diante de si. Realmente ela estava certa. Desistiu de enveredar pelo caminho da política. Um fato o faria nem tão cedo fazer tal cogitação: Fábia estava grávida de gêmeos. Eram os primeiros gêmeos na história da família Antunes. Nove meses depois, nasciam de parto cesariano Cláudio e Miguel Antunes.
Sofia deu uma festa para comemorar e os festejos duraram um fim de semana inteiro, pois, como os Antunes eram adorados pelo povo, as festividades tiveram a participação do público, com almoços e danças entre todos, numa mistura alegre e salutar.
Os anos evoluíam no calendário. Fábia não quis mais engravidar e fez ligação de trompas. Demetrius estava muito feliz com seus filhos, que eram lindos e tinham, para não perderem as caracterizações típicas dos Antunes: eram loiros e de profundos olhos verdes.
Os gêmeos completavam 15 anos. Demetrius programou um mês inteiro de festividades. O povo babava, ninguém queria ficar de fora ou perder qualquer que fosse o festejo, todos faziam questão de mostrar e lembrar que os Antunes eram uma tradição e que esta família pertencia eles, em qualquer lugar da Nação, especialmente nas cidades de W e K.
Cláudio e Miguel faziam sucesso onde chegavam. Lindíssimos, extrovertidos, alegres, tudo faziam para encantar, desde os mais novos, aos mais velhos. Sofia envelhecia a olhos vistos, mas nem por sonho falava em entregar a Presidência da Fundação, o maior orgulho do povo e dos familiares.
Os americanos prosseguiam insistindo, porém o “não” igualmente seguia sendo a resposta dos Antunes. Acredita-se que eles pensassem assim: “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, e como os Antunes eram “osso duro de roer!”. Foi por esta época que os donos da Funda-
ção perderam entes queridos. Carla, irmã de Sofia, falecera na Alemanha. Posteriormente, fora a vez de Esmeralda, vitimada pelo mal de Parkinson.
Cláudio e Miguel saíam pontualmente da escola ao meio dia. Determinada sexta-feira, receberam um recado em sala de aula, antes do toque final, levado pela coordenação do estabelecimento em que estudavam. A condução enviada por seus pais todos os dias para os levarem para casa havia quebrado e eles deveriam acompanhar uma outra, contratada emergencialmente para esta ocasião. Ingenuamente as crianças seguiram as orientações...
Demetrius estava em seu escritório quando recebeu estranho telefonema:
- Tenho certeza de que o senhor ama muito a seus filhos e os quer de volta, não é mesmo? - Inquiria uma voz esquisita do outro lado da linha.
Demetrius perdeu o fôlego... Logo compreendeu que os filhos haviam sido sequestrados.
- Pelo amor de Deus, não façam mal aos meninos – Pedia desesperado.
- Ah...! Aqui somos nós quem mandamos, somos nós que estamos no comando...Arrogante!
- Diga logo quanto querem... quanto querem de resgate? Digam! – Demetrius gritava.
- Não grite, idiota! Pensa que porque tem dinheiro tudo pode? Ledo engano... De imediato não é dinheiro que desejamos. Você vai exigir de sua querida mamãe que assine, de uma vez por todas, a venda da Fundação aos representantes dos americanos... caso isto não se faça, tenha certeza, nunca mais verá seus filhos, nunca mais...
- Como vocês podem exigir algo que não depende de mim? Eu não sou o Presidente da Fundação, nem tenho este poder sobre ela... – Demetrius falou.
- Isto não é problema nosso... Tem mais: deixe a polícia fora do caso. Caso percebamos que a polícia foi acionada e até o Governo, seus filhos virarão alimento de abutres. Voltaremos a nos falarmos, palerma...
Desligou o telefone. Demetrius segurou o queixo com as mãos e chorou abundantemente. Jamais poderia imaginar que a situação chegasse a este ponto. Levantou-se e foi em busca da mãe na sala da Presidência.
- Não sei mais o que fazer, minha mãe... Eles sequestraram meus filhos e exigem...
- Calma, Demetrius. Não podemos entregar os pontos, haveremos de encontrar uma saída para resolvermos este impasse. Lembremos que os americanos estão envolvidos nisso... – Tentou acalmar Sofia.
- Enquanto isso meus filhos correm riscos de vida...- Lamentava-se Demetrius.
- O que eles querem: que eu formalize a venda da Fundação... Isso não podemos fazer... Tenho um plano de ação... – Sofia disse.
- Qual? minha mãe, qual?
- Reúna imediatamente nossos jornais, rádio, revista e televisão, mas apenas os nossos... – Pediu Sofia – Faça isto com urgência e sem perda de tempo.
Neste ínterim, Fábia entra totalmente fora de controle na sala da Presidência.
- Calma, Fábia, estamos tentando encontrar uma maneira de solver este assunto. Toda a calma neste momento é mais do que necessário... – Pediu gentilmente Sofia...
Fábia só fazia chorar que chorar, estava plenamente em estado de choque. Os médicos da Fundação foram solicitados a fim de atenderem a todos quantos manifestassem nervosismo.
Tudo o que Sofia encomendara a Demetrius acabava de entrar em sua sala.
- Preparem tudo porque irei fazer um pronunciamento em rede nacional. – Sofia exigiu.
Tudo preparado e Sofia falou em cadeia de rádio e televisão para todo o país, somente utilizando da mídia ligada ao seu complexo administrativo.
“Senhoras e senhores, boa tarde! Tenho meus netos, gêmeos, Cláudio e Miguel, 15 anos, sequestrados por um bando de marginais que agem sob o comando de um poder americano. Eles exigem que eu assine a venda da Fundação e de todos os nossos conglomerados para que soltem as crianças, caso contrário, segundo eles, nunca mais veremos os gêmeos. Peço, neste momento, que toda a Nação se una a nós, que elevem seus pensamentos ao Alto e perguntem a Deus, nosso Criador, se é justo o que fazem com dois meninos indefesos... Que tem eles com os problemas do mundo? A Fundação Mercantil Dagoberto Antunes é um patrimônio do povo brasileiro e eles querem nos tomar o que nos pertence...e sabem vocês a razão disto tudo? É que nossa
Fundação tem negócios sólidos na Amazônia... Estão conscientes do que isto representa? Representa água, a Amazônia é uma das regiões do planeta onde se concentra grande quantidade de água doce que, num futuro bem próximo, valerá ouro, pois, as águas do mundo estão se acabando, por este motivo eles há tantos anos insistem para que vendamos a Fundação e, assim se-jam os donos da água... Mas nós não arredamos nossos pés, não venderemos por nada o que
legitimamente foi edificado à custa de muita luta e sacrifício de muitos. Portanto, é justo o que fazem com dois jovens inocentes? É justo? É só senhores, muito obrigada pela atenção de todos. Boa tarde!”
A nação inteira tomou ciência do que se passava. Um misto de revolta e raiva tomou de conta da população. Governo e polícia entenderam que não deveriam entrar no problema e pacientemente aguardaram o encaminhar das negociações.
Os sequestradores a tudo assistiram. E a ordem veio de cima:
“Soltem os meninos... nada mais há a ser feito, por enquanto... Soltem os meninos, e logo...”
Cláudio e Miguel foram abandonados totalmente nus numa estrada deserta. Foram socorridos por um morador do campo que, reconhecendo-os, levou-os para sua casa e, de lá, entrou em
contato com Demetrius, que pegou seu carro e, em companhia de Sofia, foram resgatá-los.
Imediatamente a notícia do reaparecimento com vida dos meninos chegou ao público e todos fizeram, mais ou menos, os mesmos comentários, em todos os recantos:
“Não é à toa que Sofia Antunes ainda é Presidente da Fundação. Que mulher de fibra! Que mulher porreta!”
AMANHÃ - A RETA FINAL QUE SERÃO 3 CAPÍTULOS
AMANHÃ - PARTE III - CAP. I