GERAÇÕES
PARTE II
CAPÍTULO IV
Gilberto era a menina dos olhos de Arthur Antunes. Controlava até os minutos e segundos que o filho dormia. Estava atento a tudo,
principalmente às suas amizades. “Experiência própria”, pensava. Lembrou os longos anos em que seu amor ficou dividido entre sua mulher e Vicente Brusque. Absolutamente não desejava que o sentimento de Gilberto fosse bipartido como houvera sido o seu. Almejava para ele o amor único de uma mulher que pudesse dar-lhe muitos filhos e, assim, assegurar a continuidade da família dentro do puro sangue dos Antunes, sem que houvesse a necessidade de uma adoção, isso partiria a genealogia primitiva da família.
Arthur estava absorto em seu trabalho. Havia urgentes soluções a serem dadas e ele precisava de toda a tranquilidade possível. Estava em pauta a aquisição de uma rede de comunicações em que havia televisão, rádio, jornal, gravadora e uma editora. Estudava firme os prós e os contras do
possível investimento nessa área. Foi bruscamente interrompido em seus pensamentos pela chegada de Evandro Muniz, seu Vice-Presidente.
- Peço licença, Arthur, mas estou de saída e gostaria de uma rápida conversa com você.
- Pois não, Evandro, sente-se. Em que posso ser útil? – Perguntou Arthur.
- Eu e minha mulher vamos fazer uma longa viagem de recreio a fim de aproveitar o tempo de férias que você me concede. Mas este é um período em que Renan está em aulas e não tenho onde deixá-lo. Gostaria de saber se há alguma inconveniência que fique em sua casa em companhia de Gilberto.
- Nenhuma inconveniência, Renan pode ficar em minha casa durante sua ausência. – Respondeu Arthur.
- Agradeço esta gentileza de sua parte. Ainda hoje o levarei lá, visto que embarcamos pela madrugada. – Confirmou Evandro.
Ás dez horas da noite, Evandro deixava Renan em casa de Arthur debaixo de forte recomendação.
- Seja educado e atencioso com Gilberto e Arthur. Eles o hospedam, mas não têm em si qualquer obrigação em relação a isso. Trata-se de uma gentileza. – Advertia Evandro.
- Eu sei, meu pai... Que sua viagem seja maravilhosa, saberei comportar-me. – Prometeu Renan.
Renan era um ano mais novo que Gilberto, havia 15 anos. Belo garoto: moreno-claro, olhos escuros, pele lisa, cabelos pretos e ondulados. Gilberto o recebeu com alegria.
- Seja bem-vindo, Renan. Meu pai saiu, porém me preveniu que você viria.- Recebeu-o Gilberto. Em meu quarto, que é suíte, há duas camas. Você escolhe: quer ficar no quarto comigo ou prefere um aposento de hóspedes, onde ficaria sozinho e isolado?
- Se não há inconveniência, prefiro ficar no mesmo espaço que você, assim um faz companhia ao outro. – Escolheu Renan.
- Tudo bem, venha.
Gilberto separou uma parte em seu guarda-roupa, onde Renan pôde arrumar seus pertences. Depois, pegou a toalha e entrou na suíte, nunca dormia sem que antes tomasse um banho. Achou o banho delicioso, por isso demorou-se um pouco. Abandonou o banheiro enrolado na toalha.
- Você não costuma tomar banho antes de dormir? – Renan indagou.
- Sim, mas eu já tomei. – Retrucou Gilberto.
Por baixo da toalha Renan vestiu a cueca e, assim, pôde retornar ao banheiro e estendê-la.
- Seu quarto é bem equipado – Renan elogiou. – No meu não há nem metade do que há aqui.
- Gosto que seja assim, Renan, Não gosto muito de estar andando pela casa à cata do que possa precisar.
As camas ficavam bem separadas, uma em cada canto de parede, deixando um largo espaço em meio da alcova.
- Você está com sono, Renan?
- Este danado ainda não chegou. Por quê? Você está?
- Também não. Costumo dormir um pouco mais tarde. – Disse Gilberto.
- E o que você fica fazendo até que o sono chegue?
- Ah... uma porção de coisas. Lendo, vendo TV, conversando através do computador com as meninas... Depende muito da ocasião. Quer assistir à TV?
- Seria uma boa... A esta hora no canal Y passa filmes pornôs, você gosta? – Questionou Renan.
- Adoro! Boa ideia! – Colocou Gilberto.
- E seu pai, não reclamaria se nos visse assistindo a esses tipos de filme?
- Claro, todavia meu pai não dormirá em casa hoje. Foi para uma de nossas fazendas, ele está bastante concentrado nuns relatórios, analisando-os, porque está para investir aí pesado numa
mídia. Vamos então aos filmes pornôs, que legal! – Vibrava Gilberto.
Ligaram a TV num canal onde só havia cenas de sexo explícito. Cenas pesadas que os deixaram muito excitados.
- Olha só, Gilberto, como estou... – Mostrava Renan.
- E eu... não fico por menos.. – Gilberto apontava.
E mais cenas e mais sexo deixaram os dois a ponto de explodirem...
- Vou pedir licença a você – confessou Renan – mas vou ao banheiro descarregar esta energia.
- Eu também estou indo, não há como esperar mais...
Tiraram as cuecas e entraram nuzinhos na suíte. Ficaram de pé dentro do “box”, exercitando a musculatura das mãos...
- Está demorando muito...- Reclamou Renan.
- O mesmo ocorre comigo... Gilberto falou.
Longos minutos se passaram e eles não conseguiam a satisfação, foi quando Renan propôs:
- Que tal trocarmos as mãos? Talvez consigamos mais rápido...
Foi assim que atingiram o clímax. Pior que não ficaram apenas nisto, foram bem mais além e muito houve entre eles. Depois tomaram banho juntos e se deitaram para dormir.
- Nunca havia experimentado nada disso antes – Confessou Renan.
- Igual a você, jamais havia me concedido conhecer os prazeres de uma relação.
- Teremos de ter o máximo de cuidado... ninguém pode nem sonhar o que houve entre nós. – Pediu Renan.
- Claro, tudo isto é algo que só pertence a duas pessoas: a mim e a você. – Gilberto frisou.
- Combinado! – Respondeu Renan.
Adormeceram.
E se tornaram amantes, a relação entre eles duraria alguns anos...
Como o tempo não gosta do ser humano... Não oferece trégua. Avança que avança e as idades vão chegando e enchendo as pessoas de cicatrizes ou de inefáveis experiências.
Gilberto completava 19 anos e era concluinte do curso de Administração de Empresas. Arthur sofrera um AVC há um ano e não pôde mais seguir Presidente da Fundação. Precocemente Gilberto assumiu o cargo. Antes de adoecer seriamente, Arthur concluíra as negociações com o
grupo de imprensa em que passara quase dois anos estudando a possibilidade de aquisição. Finalmente se decidiu e fechou negócio, expandindo ainda mais o conglomerado de empresas ligadas e pertencentes à Fundação Mercantil Dagoberto Antunes.
Numa tarde, na sala da Presidência, Gilberto recebia Renan em visita.
- Estive pensando, Renan... ah, obrigado por haver atendido meu chamado. – Agradeceu Gilberto – amo você e por isso mesmo é necessário que mantenhamos as aparências como se nada
houvesse entre nós, como sempre foi até aqui.
- Concordo com você. Também o amo, e muito! Que tem em mente? – Indagou Renan.
- É preciso vermos belas moças e nos casemos a fim de que nossa relação nunca venha a ser comentada. Verifique que estamos muito juntos e tal fato levanta suspeitas... – Explicou Gilberto.
- Assino embaixo, agora dividir você com outra pessoa... isso é o fim da picada...
- Também penso assim, mas não nos há outra saída...
Gilberto começou um namoro com uma moça de nome Regina e Renan conheceu Amanda, por quem perdidamente se apaixonou. O tiro dado por ambos saiu pela culatra, porque a relação deles foi esfriando até que, certo dia, em comum acordo, puseram um ponto final.
Arthur não assistiu ao casamento do filho, falecera um mês antes... Renan se casou em foi morar nos Estados Unidos, os familiares da esposa haviam negócios importantes em Hollywood e pa- ra lá eles embarcaram e fizeram suas vidas. Nunca mais Renan e Gilberto haveriam de cruzar seus caminhos.
Gilberto não era de perder tempo. Em menos de um ano de casados, Regina trazia ao mundo Magnólia, sua primogênita. Sucessivamente chegaram: Carla, Esmeralda e Sofia... O sexo feminino coloria a galeria dos filhos de Gilberto.
Era extraordinário executivo, dirigia com mão de ouro a Fundação e os negócios ligados à Dagoberto Antunes. Os americanos desejavam marcar audiência com Gilberto, que os recha- çou mesmo ali na sala de espera e perante outras pessoas que esperavam para falar consigo:
- Gringos de uma figa, perdem o tempo de vocês... a Fundação não está à venda e nem estará nunca. Sumam daqui, já!
O tempo não ressona, voa... As filhas de Gilberto cresceram e todas estudaram e se formaram em Administração de Empresas. Todas elas sonhavam, um dia, sentar na cadeira de Presidente da Fundação. Tal fato enchia o coração de Gilberto de alegria. Como seu pai sempre dizia: ”Nossa família precisa crescer para que nunca falte o legítimo sangue dos Antunes na gerência principal dos empreendimentos.”
Gilberto resolve abdicar da Presidência. Mesmo não tão velho, sentia-se cansado. Resolveria em casa qual de suas filhas seria sua sucessora. O sonho estava embutido no coração de todas elas.
- Não vou fazer sorteio – disse – através de nomeação provisória darei chance a todas de sentarem naquela cadeira. Por um período de dois anos cada uma de vocês vai reger os negócios. Depois que todas passarem pelo teste, estarei sempre atento, analisando o desempenho de cada uma, eu me decidirei quem ali ficará em definitivo.
Gilberto fora muito feliz em sua decisão, assim não cometeria injustiças e todas teriam as mesmas oportunidades. Findo o prazo, ganhou a mais nova o direito de prosseguir no posto, visto que fizera uma notável administração. Sofia Antunes, era por direito de competência, a verda-
deira intérprete de um grande império e, para evitar possíveis contendas futuras, tudo ficou registrado e assinado em ata, devidamente autenticado em cartório.
Carla Antunes se casou com um alemão e fora residir na Europa. Magnólia, ao ser preterida à Presidência da Fundação, suicidou-se e Esmeralda vivia, mas jamais se casaria, porque aberta- mente confessara gostar de uma amiga de infância, Catarina Brown, e com ela residia e vivia em parceria amorosa.
Sofia contraiu núpcias com Fernando Azim, que logo viria a ocupar a Vice-Presidência da Fundação. Era um casal feliz, mas Sofia só pôde engravidar uma vez e trouxe ao mundo um único filho, de nome Demetrius. Pelo menos se contava como certa, num futuro próximo, a ascensão de Demetrius Antunes à cadeira da Presidência da Fundação Mercantil Dagoberto Antunes.
Gilberto e sua esposa foram à Europa em visita a uma das filhas que lá residia, Carla. Infelizmente houve um acidente e o avião em que viajavam caiu no mar... sem sobreviventes!
O tempo dava a graça de mostrar-se. Os anos ganharam asas e eis que Demetrius estava a completar 15 anos. Diretamente da Europa, Carla viera com Gerard, seu marido , e com Sigmund,
seu filho único. Vieram ao acaso e nem sabiam que Demetrius estaria aniversariando. Ficaram hospedados em casa de Sofia Antunes. Sigmund era um garoto lindíssimo e , além dos traços da etnia alemã que possuía, igualmente havia em sua formação e em sua aparência os genes loiros e genéticos da família Antunes.
AMANHÃ - CAPÍTULO V DESTA PARTE II