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almas de pedra

 
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reza a lenda...

...tinham jurado em vida eternidades intemporais. Tinham-se proposto a receberem a dádiva quântica do elixir da magnitude celeste unindo-se em pensamentos, actos, razões e emoções. Tinham unido espíritos, almas, corpos, em compêndios de racionalidade pura, mesmo quando a sua existência, lhe oferecia de bandeja, o gume afiado de um punhal pronto a ferir de morte a devoção cúmplice a que se viviam. Eram pequenas folhas escritas e reescritas em uma tempestade perfeita, onde e aonde os ventos não lhe davam tréguas, mesmo assim, à deriva, continuavam unidas, unindo laços, apertando nós, viajando por entre escombros, prisões, fogueiras inquisitórias e os demais vendavais que lhes assolavam os dias.
mas tinham-se...um ao outro!
Renasciam em mortes, morriam em vidas, cresciam em meandros tão puros de solidariedade que os almanaques esotéricos escreviam odes, suplicando gastos, libertando djinns alados por tão grande impropério a que o mundo assistia. Pronunciavam-se, um ao outro, em ladainhas tão antigas, pertencentes a outras reencarnações, em falas tão pouco usuais, debitando ditongos tão meigos, tão fartos de melodia, que o próprio som das suas bocas enamorava o espírito por tamanha trova enigmática. Eram caçadores de sonhos, músicos sem pautas, pintores que utilizavam o próprio sangue para descrever a imagem alegórica que viviam, utilizando a própria pele como tela de vida. Eram-se sem como nem porquês, apenas eram-se. Um dia, quando dormitavam enroscados um no outro, olharam-se e perceberam, que mais uma vez, a dama de negro, aquela que lhes roubava, em todas as vidas, a existência em conjunto, poderia chegar a qualquer momento. Desesperaram, sabiam quanto tinham sofrido para se encontrarem, quanto tinham lutado para se terem, quantas vidas, corpos, peles tinha saboreado para encontrarem aquele ou aquela que verdadeiramente lhe pertencia. Oraram, pediram à Terra, ao sagrado coração da Vida que não mais os separasse, apenas queriam ter-se, serem-se, viverem em comunhão com os antigos deuses da vida. Gaya comoveu-se e, num pestanejar divino, deixou cair em cima de cada um deles uma lágrima de eternidade. Olharam-se pela última vez, olharam-se bem fundo, tão lá dentro, com tanta devoção, com tanto carinho, amor, paixão que ficariam para todo sempre com aquela sensação inscrita dentro do peito.

Eternizaram-se numa morte em vida!

Nunca mais sofreriam, nada mais os separaria, nada mais os atingiria. Hoje, na frieza da rocha, encontra-se o esplendor de um amor tão puro, tão divino, tão terreno, tão sonhado em que o tempo, apenas e só, os carregará pela eternidade fora.

como se pode apenas querer um hoje, um agora, um momento, um orgasmo, uma pseudo-alma, quando a vida é tão bem mais do que isso!

Quando percebermos que a nossa casa, o nosso abrigo, a nossa devoção é o que sentimos dentro do nosso coração, dentro da alma e não dentro da obrigatoriedade, perceberemos que, afinal de contas, a vida é bem mais do que as aparências a que somos obrigados a ter ou as "iludências " que queremos dar aos outros.
e a vida passa tão rápido...
Porque às vezes nada somos e é, nesse nada, que devemos ser tudo!


"Quanto maior a armadura, mais frágil é o ser que nela habita!"



Pó és e pó voltarás a ser não foram palavras ditas à alma."
(Henry Longfellow)
 
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Gothicum
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