O ROSTO DE PANDORA
Não adianta se ocultares por entre as sombras da ignorância,
pois a minha visão logra a silhueta da tua indelével peçonha.
A nitidez das nuanças dos teus traços, ainda que imersos
na perfeição da latência,
te entrega, sobretudo porque, precisamente, denuncia
a diafaneidade que emana da tua traiçoeira matéria:
matéria traicoeiramente nojenta.
Sim, a fazer os meus olhos depreenderem o exalar do nojo:
O nojo da tua presença!
Não, ah, não:
é vão te enleares nesse fatuamente seguro
novelo de neutralidade qual reside no alfobre epicêntrico
do século passado:
Pois a perspectiva dos teus contornos
suplanta e transpõe as tramas e zilhares
de tramas que, hermeticamente, te encobrem. Oh, sim,
certamente
por seres o adorável ademais insigne promotor
da velha “Pax Romana”.
Sim, tu és tão forte; sem, contudo, seres mais:
mais que a candura da imagem:
imagem projetada pelo antivéu qual revela
a abundante vileza das lúgubres atitudes onde afloram
tuas reais empresas:
posto aches que bem resguardadas estejam,
assentadas no presunçoso sólio da intangibilidade.
Na verdade, a intangibilidade da tua hipócrita nobreza.
Com efeito é o teu rosto que vejo
impresso na esfinge do Mercador e Messias
qual procede da Plaga de Hamurabi:
lá onde jazem as cinzas da glória
de que um dia desfrutara
o agora espectral Império dos rios Tigre e Eufrates.
Sim, te vejo:
vejo-te nas charges delineadas pela pena
do antológico Martelo de Thor
Sim, te enxergo:
enxergo-te na face da intransigência de um deus magoado, chafurdado no magma do ódio incitado, que é justamente
o fel temerário:
te visualizo nele por reconhecer teu sorriso de lagarto.
Um sorriso mordaz, agudo, altaneiro e macabro
saído da intemperança de ti, cretino carrasco.
Ah, e tudo por que, caralho?
Porque queres o cume mais alto do encanto...
Porque não queres, de modo algum, deixar passar:
Passar a sensa-
ção de inefável onipotência que te oferece o bagulho.
Queres o gládio.
Queres sentar... sentar... repousar... Imortalizar-te no trono do
Mundo, onde brevemente não haverá mais nada pra governar...onde nem tu passarás incólume. Onde somente o vácuo será a única coisa que pairará sobre a bruma do ocaso que estará envolvendo o ar do resto de tudo. E tu, que agora reinas graças a lei da maior potência, então, passarás a viver confinado ao epitáfio burilado no túmulo de remotos sóis aniquilados!
Oh, que pena, nem mais serás poeira cósmica a vagar errantemente no sempre açambarcador espaço inclemente.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA