ESPECTROS SEM RUMO
Floresce em mim
um sentimento de condoimento
ao ver meu povo andar ao acaso
por uma estrada que o levará indubitavelmente para o ocaso:
Se é que lá não já haja chegado.
Sim, porque tenho a quase sólida certeza
de que ele esteja vivendo numa realidade
cuja substância é deleteriamente surreal.
Na verdade, temo estarem presos
num limbo sicário da inconsciência,
onde vejam, em um crápula centurião afável,
o caminho para se emancipar de um limbo mais sofrível a eles:
sim, falo do limbo da fome que erige seu viver diário!
Sim, substância surreal é aquela realidade em que vivem
meus primeiros irmãos libertos.
Porque ela, a realidade que julgam vivente,
é um sintoma metafísico:
uma projeção particular do mundo criado pelos carrascos
onde o dantesco do horror mental não importa muito:
pois o importante é saciar a fome... a sede física.
Por isso crêem desesperadamente na mão estendida de um pai:
pai que serve justamente áqueles que os expiam com a urgente.
Premente privação do curso normal de sua fisiologia animal, reduzindo-a á de um faminto cão atrás duma canina boceta descumunal]
Entretanto o castigo maior
não é morrer de inanição do corpo,
segundo os fazem pensar os teniáticos Georges washingtons.
O pior é morrer sem morrer...
é morrer de fome sem nem mesmo saber realmente de que
fome seja...
é andar sem se ter consciência.
É andar sem saber-se morto: morto por não sentir o pulsar.
O pulsar da sua cabeça sobre o corpo.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA