No meio da multidão tinha um homem
Tinha um homem no meio da multidão
Em uma das mãos trazia uma rosa
Na verdade era apenas um botão
Um botão de rosa avermelhada
Os transeuntes passavam impassíveis
O homem parado a espera de alguém
O tempo passou e não veio ninguém
Caiu a noite, choveu, se foi o céu de anil,
Chegou uma noite tenebrosa e escura,
Passou Fevereiro, Março, chegou Abril.
O botão da rosa desabrochou
Uma pétala cálida e morta caiu
depois outra, outra e mais outra
Só restou um fiapo de folha seca
Um caule rugoso com espinho
Que feriu a mão do homem
Que não tinha nada, nem nome
Apenas o restolho de algo que foi
Apenas o resto de um olho que viu
Um botão rosado da rosa avermelhada
Agora o homem que não tinha nada
Só, no meio daquela multidão,
Com uma rosa despetalada
Na mão.
Uma lágrima corrida e caída.
Um gota de sangue sujou o chão.
Gyl Ferrys