Nunca sinto saudade antes do almoço
Não acordo antes do anoitecer
Ainda me dói a dor que não sinto
De tanto falar pareço moça tagarela
Moro bem lá no alto, logo que acaba a favela
Nem canto tal mal assim: quando tem nota desafino
Não tenho medo de amar
Me encanta o segredo do mar
Aquele que desce morro abaixo
Despedaçando como águas
Só pra depois me juntar
Num canto do copo sem mágoas
Nem sei lá por tanto, por onde andas
Com que pano teceu teu pranto
Com que tempo o vento corroeu o aço
Enquanto a mão amassou o trigo, o fogo torrou a massa
E chovia suave uma tempestade de fogo em meus olhos
Matando a sede da terra e escorrendo pelos minaretes
Enquanto uma saudade ciscava dentro de mim
Assanhando um tempo que fez do meu peito morada certa
José Veríssimo